Em comício realizado ontem na cidade satélite de Ceilândia, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a elite e a imprensa têm “bronca” da presidente Dilma Rousseff, candidata do PT à reeleição. “Eles não toleram a Dilma. Não tem explicação a bronca que eles têm da Dilma”, afirmou. Sem a presidente no palanque, Lula elogiou o discurso feito por sua sucessora na abertura da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, mas disse não se conformar com o que foi publicado pelos jornais.
“Eu fiquei orgulhoso com o discurso da Dilma na ONU, o Brasil saiu do Mapa da Fome, mas os jornais disseram que ela foi lá na ONU fazer política e campanha”, afirmou Lula. “Nós não podemos brincar porque a imprensa é o maior partido de oposição que temos hoje. Se o Brasil que eles descrevem todo dia fosse verdade, o País teria acabado.”
Dilma não compareceu ao comício desta quinta-feira, ao lado de Lula e do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, sob a alegação de que estava afônica após a viagem a Nova York. No Distrito Federal, a candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, está à frente de Dilma nas pesquisas de intenção de voto. Agnelo, por sua vez, ocupa o terceiro lugar.
Marina
Lula voltou a dizer que também “ama” Marina, em alusão ao sentimento que a ex-ministra do Meio Ambiente disse nutrir por ele. Ressalvou, porém, que a escolha para o Palácio do Planalto tem de ser feita levando-se em conta o critério da competência. “Eu também amo ela (Marina), mas a escolha para a Presidência não é um caso de amor. Se fosse, eu chamava a Marisa para ser candidata”, brincou, numa referência à sua mulher, Marisa Letícia. “Quando eu escolhi a Dilma sabia para ser candidata, eu sabia que ela tinha competência. A Dilma era a pessoa mais competente e por isso ela não permitiu que o País entrasse em crise”, afirmou.
Lula destacou que a Europa desempregou 62 milhões de trabalhadores desde 2008, enquanto que o Brasil criou 11,5 milhões de novas vagas com carteira assinada. Em duas ocasiões, o ex-presidente foi interrompido por gritos de “olê, olê, olê, olá, Lula, Lula”. Emocionado, ele contou que, ao gravar um programa eleitoral de TV, ouviu a sugestão para tirar a camisa do PT por causa das denúncias de corrupção que pesam contra o partido desde o escândalo do mensalão.
“No dia em que eu tiver vergonha de usar a minha camisa vermelha e a estrela não há nenhuma razão para fazer política”, rebateu Lula. “Numa família grande como o PT, tem gente que comete erros e abusos. Eles, os que erraram, têm de pagar pelos abusos.” Sem citar o escândalo envolvendo a Petrobrás, Lula disse que “a diferença é que, no tempo da oposição eles jogavam (a sujeira) embaixo do tapete”. E completou: “A Dilma tirou o tapete da sala”.
Lula também aproveitou o discurso para alfinetar o senador Aécio Neves, candidato do PSDB ao Planalto. O ex-presidente ironizou o fato de o tucano defender um “choque de gestão”. “Quando alguém fala em choque de gestão significa arrocho salarial, diminuir benefícios dos trabalhadores e mandar funcionário público embora”, disse.
O discurso de Lula foi marcado por críticas à imprensa. Ele lembrou que era criticado pelos meios de comunicação por “viver fazendo comício”. “Quando criamos o Bolsa Família eles diziam que era esmola. Quando criamos o Prouni (programa que dá bolsas a estudantes de baixa renda em universidades particulares) diziam que estávamos nivelando a educação por baixo”, disparou. Ele ainda afirmou que a elite e os meios de comunicação promovem uma campanha negativa contra o PT nos mesmos moldes da realizada contra os ex-presidentes Getulio Vargas, João Goulart e Juscelino Kubitschek.
Lula disse ainda que a elite brasileira não admite que os pobres tenham obtido acesso a bens e serviços de qualidade. “Eles nunca aceitaram alguém que ousasse permitir que um negro virasse doutor; eles não perdoam o PT porque, na Bahia, uma empregada doméstica candidata a prefeita ganhou as eleições”, disse.
“Eles não admitem ver pobre entrar em açougue e comprar mais do que pescoço e pé de frango. Eles não admitem pobre comprar carne de primeira, acham que nós nascemos para comer músculo. A elite gostava de andar de avião vazio e ver pobre andar 40 horas de ônibus para ver parentes no Nordeste”, disse.
O ex-presidente também afirmou que seus opositores não admitem que “uma guerrilheira” como Dilma seja presidente e esteja fazendo uma administração “extraordinária”. “O Lula incomodava muita gente. O Lula e Dilma incomodam muito mais”, concluiu.