Durante o depoimento do consultor legislativo André Eduardo Fernandes à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Cartões Corporativos, nesta terça-feira (20), o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) afirmou que "vaza informação quem é responsável pela guarda dos dados". Para o senador, o problema não é divulgar informações, e sim "usar a máquina pública para tentar intimidar a oposição".

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Alvaro Dias lembrou ainda que a imprensa tomou conhecimento da existência do dossiê muito antes do que o assessor dele, André Eduardo. Segundo o parlamentar, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), também teria tido conhecimento do dossiê muito antes dele e repassado à revista Veja, inclusive, a informação de que uma lista de cerca de 60 itens "exóticos" adquiridos pelo presidente Fernando Henrique faria parte de um documento que estaria sendo preparado pela Casa Civil.

Já o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) lamentou que o que considera "realmente grave" não esteja sendo discutido pelos parlamentares da comissão. Ele disse ter "convicção" de que a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, mandou que o dossiê fosse feito e que a assessora dela, Erenice Guerra, organizou o grupo que montou o documento, do qual fazia parte o ex-diretor de Controle Interno da Presidência da República, José Aparecido Nunes.

– O que é importante é saber quem fez e quem mandou fazer o dossiê. Em vez disso, os parlamentares da base do governo ficam se pegando em detalhes, fazendo observações sobre o consultor André que beiram a grosseria, tentando desqualificá-lo – lamentou Arthur Virgílio.

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André Eduardo afirmou ao senador Demóstenes Torres (DEM-GO) que teria informações que só poderiam ser repassadas em uma reunião secreta. A proposta foi posta em votação pela presidente da comissão, senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), mas rejeitada por 12 votos de parlamentares governistas, contra sete votos de oposicionistas. Para Demóstenes, o envio do dossiê a André Eduardo foi claramente uma ameaça porque era um documento que tratava de dados com mais de dez anos de existência. Não havia motivo para que esses dados fossem resgatados, na opinião do senador.

Durante o questionamento a André Eduardo, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) relatou entrevista concedida por Alvaro Dias à Rádio CBN onde o senador teria dito que José Aparecido passou o e-mail com o dossiê a pedido de André. O deputado Maurício Quintella (PR-AL) disse que André Eduardo seria "um petista frustrado, um vazador perigoso, que trabalha 24 horas por dia contra o governo".

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André respondeu que foi aluno do senador Cristovam Buarque (PDT-DF) e que trabalhou no governo de Cristovam no Distrito Federal. Nesse período, contou, foi filiado por dois anos ao PT. André confirmou ainda ter indicado um amigo e uma prima em terceiro grau para trabalhar com José Aparecido. Garantiu várias vezes, ainda, nunca ter pedido emprego para si próprio no governo.

O senador Wellington Salgado (PMDB-MG) questionou se André Eduardo pediu informações sobre a confecção do dossiê a José Aparecido. O consultor legislativo garantiu que nunca fez nem faria isso. Para o peemedebista, no entanto, "houve um tráfico de interesses".

A senadora Ideli Salvatti (PT-SC) destacou que uma suposta ameaça feita por José Aparecido foi apenas uma interpretação de André Eduardo, uma vez que não houve nenhuma palavra ou gesto nesse sentido por parte do funcionário da Casa Civil. Ideli lembrou ainda que não há provas materiais dessas ameaças, uma vez que não existem gravações, textos ou testemunhas.

O consultor legislativo reafirmou crer que o dossiê se tratava de uma "chantagem política contra a oposição". Tanto que nota publicada na revista Veja no dia 16 de fevereiro listava exatamente os itens que constavam na planilha que recebeu de José Aparecido, como bebidas, óculos e a contratação de uma chefe de cozinha, argumentou André. A senadora considerou "estranho" que, se foi realmente uma chantagem, o documento tenha vazado pelas mãos de uma pessoa do Partido dos Trabalhadores. André Eduardo respondeu ainda a Ideli que aceitou almoçar com José Aparecido depois que o escândalo se tornou público porque queria saber "até onde ele iria".