Às vésperas do aniversário de um ano do lançamento do 3º Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3), o ministro da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, critica o colega Nelson Jobim, ministro da Defesa, por sua oposição ao plano e seus ataques à implementação da Comissão da Verdade, que pretende investigar os crimes praticados pelos militares durante a ditadura. “Não considero o Jobim um fascista, um canalha, o considero defensor de uma posição equivocada”, disse o ministro nesta manhã, durante lançamento do 4º Relatório Nacional sobre os Direitos Humanos no Brasil, elaborado pelo Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP).
Vannuchi, que deixa o cargo nos próximos dias e deve ser indicado pelo governo brasileiro para ocupar a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, lembrou que Jobim foi um personagem importante na criação do PNDH-1 e evitou fazer críticas à sua permanência no governo da presidente eleita, Dilma Rousseff. “Por alguma razão ele adotou uma função que, para os Direitos Humanos, é inaceitável”, completou. Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Vannuchi afirmou que Jobim maculou sua biografia ao atacar o plano.
O ministro da Secretaria Nacional de Direitos Humanos reiterou hoje que o objetivo da Comissão da Verdade é encerrar um capítulo importante da história do País, com a revelação da “narrativa oficial” dos casos de tortura e desaparecimento promovidos por uma minoria no Exército brasileiro. Segundo Vannuchi, a ausência de um pedido formal de desculpas é “a mãe de todas as impunidades” persistentes no País. “O assunto não está encerrado, não tem como encerrar.” Vannuchi também reclamou que as críticas da mídia ao plano foram distorcidas, mas negou mágoas ao deixar o governo. “Não sou ingênuo de ignorar o processo de linchamento do PNDH-3.”
O atual ministro disse estar satisfeito com a indicação de Maria do Rosário para substituí-lo na pasta e que está seguro de que a nova ministra dará continuidade ao seu trabalho. Questionado sobre o relacionamento entre Maria do Rosário e Jobim no futuro governo, Vannuchi disse que não vê “problema nesta convivência”. No entanto, o atual ministro recomendou à sua sucessora firmeza, persistência e gradualismo.