O ministro de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, que ameaçou deixar o governo caso o presidente Luiz Inácio Lula da Silva suprimisse a questão da Comissão da Verdade do Programa de Direitos Humanos, considerou satisfatória a solução apresentada ontem.
Ele acredita que a espinha dorsal da proposta da comissão foi mantida e não houve recuo. Por decreto, mesmo instrumento usado para lançar o plano, Lula abrandou os objetivos da comissão retirando o trecho que previa o exame de delitos da “repressão política”.
Ao sair da reunião com o presidente e o ministro Nelson Jobim, ontem, ele comentou com seus assessores que, por enquanto, não deve deixar o governo. Fez questão de destacar a expressão “por enquanto”, pois sabe que a crise ainda pode ter desdobramentos, e que ainda haverá disputas na constituição do grupo de trabalho que vai preparar o projeto de lei sobre a Comissão da Verdade.
Vannuchi não quer causar nenhum constrangimento a Lula. Petista, considera-se um ministro da casa, que pode ser sacrificado a qualquer hora em benefício do governo.
Internamente, ele foi criticado por Lula por ter incluído no programa a proposta de apoio ao projeto de lei que descrimina o aborto. Entre as mais de 500 propostas do programa, essa foi a que mais causou desconforto ao presidente. Para ele, o tema é delicado demais para ser tratado de forma tão incisiva.
As reclamações já levaram Vannuchi a fazer uma espécie de autocrítica. No interior do governo, admitiu que teria sido melhor propor um debate aberto e intenso sobre o tema.