Se destacar em uma lista com oito ministros, 24 senadores e 39 deputados federais não é para qualquer um. O ex-prefeito Vado da Farmácia, que governou Cabo de Santo Agostinho (PE), no entanto, tem chamado atenção desde que o seu nome apareceu na relação dos inquéritos autorizados pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, com base nas delações da Odebrecht.
Na terça-feira, 11, quando o Grupo Estado divulgou a nova relação dos nomes que seriam investigados pela Operação Lava Jato, parlamentares chegaram a brincar que a única “surpresa” era o fato de o ex-prefeito da cidade pernambucana estar na lista. De resto, os inquéritos contra ministros, senadores e deputados já eram esperados no mundo político.
A ligação entre Vado e a Odebrecht acontece porque ele foi, até o ano passado, prefeito da cidade de Cabo de Santo Agostinho, que abriga o Porto de Suape, uma das maiores obras da Odebrecht no Nordeste.
A Procuradoria-Geral da República pediu a investigação contra Vado porque a Odebrecht teria repassado a ele e ao deputado federal Betinho Gomes (PSDB-PE) os valores de R$ 150 mil e R$ 75 mil, respectivamente, para a campanha de 2012, quando ambos foram candidatos a prefeito.
Em 2014, os dois voltaram a receber pagamentos da empreiteira que somaram R$ 750 mil a Vado e R$ 100 mil a Betinho Gomes. Em troca a Odebrecht conseguiu garantir não apenas a desoneração fiscal junto ao município, mas também privilégios em relação a um projeto imobiliário na Praia do Paiva.
É por estar sendo investigado ao lado do deputado tucano que o processo de Vado ficou no STF e não foi enviado a outras instâncias da Justiça, como aconteceu com nomes que não têm direito ao chamado foro privilegiado.
Vado da Farmácia, que na carteira de identidade é registrado como José Ivaldo Gomes, tem 48 anos. Em 2012, quando disputou a prefeitura de Cabo de Santo Agostinho era filiado ao PSB, mas trocou a legenda pelo PTB no ano passado. O ex-prefeito é alvo de outras investigações na esfera estadual, sob suspeita de pagar supersalários aos funcionários da prefeitura. Em 2016, ele desistiu de concorrer à reeleição.
Em nota enviada a jornais locais de Pernambuco, Vado negou que tenha recebido qualquer recurso de forma ilícita para sua campanha eleitoral em 2012 e disse que não tinha nada a temer. Já o deputado Betinho Gomes afirmou que teve todas as contas aprovadas pela Justiça Eleitoral e que jamais defendeu interesses privados em detrimento do interesse público. Também disse que nunca teve encontros com os delatores Djean Vasconcelos Cruz e Paul Elie Altit.