A entrevista concedida domingo pelo deputado Roberto Jefferson (PTB) ao jornal Folha de S. Paulo deu destaque a suposta participação do paranaense José Janene, líder do PP na Câmara Federal, no pagamento de "mensalões" em troca de votos favoráveis a matérias de interesse do governo federal.
Jefferson acusou Janene de ser um dos operadores do esquema: "Ele vai na fonte, pega, vem, é tido como um dos operadores do mensalão. Inclusive eu já vi o ministro Zé Dirceu muito irritado com ele porque se apresentava como operador do Zé Dirceu. Ele também é um dos homens que constroem o caixa para repartição entre deputados do PP e do PL", afirmou o petebista que é o pivô da maior crise enfrentada pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva desde a sua posse.
Janene reagiu às acusações, considerando-as totalmente infundadas. Disse que o petebista "é maníaco-depressivo". Qualificou o colega como "um amotinado, desesperado, que procura atirar para todos os lados para tirar o foco de si mesmo e transferir para outra pessoa". Afirmando jamais ter tomado conhecimento sobre qualquer esquema de pagamento de mesadas a parlamentares em troca de apoio ao governo, adiantou que iria entrar, ontem mesmo, com uma queixa-crime no Supremo Tribunal Federal, além de uma ação cível de reparação de danos, calúnia, injúria e difamação: "Vou processá-lo e pedir o bloqueio de seus bens para garantir o pagamento de uma indenização por danos morais. Ele é um mau-caráter que está criando problemas para a República".
Como tem foro privilegiado, o STF deverá primeiro autorizar ou não a abertura de processo contra Jefferson. O PP pretende ainda entrar na Justiça com uma interpelação judicial para que o petebista explique as declarações sobre a bancada do partido.
Maníaco-depressivo
Indignado, referiu-se a Jefferson como "um maníaco depressivo. Ele está fazendo acusações infundadas e ele mesmo desqualifica suas denúncias quando diz que não tem prova alguma. É um absurdo que um criminalista venha a fazer esse tipo de acusação e dizer que não tem provas".
Ele garantiu que seus contatos com o presidente do PTB nunca foram além de diálogos ligeiros, "absolutamente naturais entre dois deputados com longo tempo de mandato", e que o PP não tem nenhum cargo no governo Luiz Inácio Lula da Silva: "O PP não participou de absolutamente nenhum tipo de falcatrua, como participam o senhor Roberto Jefferson e o PTB. Evidentemente, não temos nada a temer. Isso não passa de uma fantasia de alguém que tentou ter uma relação incestuosa com o governo", rebateu o líder pepista.
Janene disse ainda que conversou com o deputado Pedro Henry (PL), que era líder do governo até fevereiro, apontado por Jefferson como participante de uma reunião com a cúpula do PL para tratar das mesadas. Segundo ele, Henry negou veementemente que o encontro tenha acontecido.
O diretório nacional do PP também desmentiu as novas acusações em nota oficial assinada pelo presidente Pedro Corrêa.
Uma carreira e vários processos
José Janene começou sua carreira política em 1981, filiado ao PMDB, e sofreu vários processos ao longo desse período, por licitações fraudulentas. Em 1992, durante seu primeiro mandato como deputado federal, migrou para o PDT. Foi quando sofreu seu primeiro processo. Sua empresa na época, a Eletrojan, foi acusada de superfaturar postes de iluminação pública na construção de uma avenida em Foz do Iguaçu. A empresa acabou falindo e o deputado diz que foi absolvido pela Justiça.
Em 1994 reelegeu-se deputado pelo PST, que depois veio a transformar-se em PP, viveu uma fase como PPB e finalmente retornou à antiga denominação. Só em Londrina, sua base eleitoral, foi alvo de nada menos que sete processos por participação no esquema de corrupção que desviou R$ 169 milhões da Prefeitura durante a administração de Antônio Belinati (PSC), cassado pela Câmara de vereadores em 2000.
O deputado assegura que conseguiu levar todos os processos para o Superior Tribunal Federal e que vai provar sua inocência: "Fui vítima de um Ministério Público ensandecido", disse em sua defesa.
Em 2002 freqüentou o noticiário policial quando o doleiro Alberto Youssef – apontado pelo Ministério Público como envolvido em lavagem de dinheiro através das contas CC-5 operadas no antigo Banestado – foi preso em Londrina com um cheque nominal a Janene no valor de R$ 150 mil. Na época o deputado disse que era avalista de uma transação entre o doleiro e um advogado.