A disputa pelo governo do Distrito Federal tem na liderança das pesquisas de intenção de voto um político ficha-suja, o ex-governador Joaquim Roriz (PSC), que faz uma campanha de xingamentos, ataques arrogantes e constante intimidação dos adversários. Cercado pelo eleitor que ele abasteceu com políticas populistas ao longo de quatro mandatos como governador do DF, Roriz apresenta-se como vítima de um “tapetão” da Justiça Eleitoral. Os discursos têm a clara intenção de criar uma espécie de “blindagem social” e uma mobilização popular que constranjam o Judiciário na hora de decidir pela sua manutenção no poder, caso venha a ser eleito em outubro.

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A outra marca nas hostes de Roriz é que, nesta disputa, ele ampliou o círculo de proteção familiar numa mesma campanha. Estão nas ruas seis nomes “Roriz” com ligações de parentesco, o pai, duas filhas e três primos. São eles: o Joaquim para o governo do DF, a Jaqueline para deputada federal, a Liliane para deputada distrital, e mais o Rubens, o Paulo e o André Roriz na disputa também por uma vaga na Assembleia Distrital. “Somos primos distantes”, diz André Roriz (PSDC).

Se os quatro sobrenomes “Roriz” forem eleitos para o Legislativo do DF, eles, sozinhos, formarão uma bancada com 1/6 dos 24 membros da Casa. O leque de partidos mostra o ecletismo político do clã: do PMDB ao PSDB, passando por DEM, PSDC, PMDB e PRTB.

Roriz tenta ocupar o Palácio do Buriti pela quinta vez – começou em 1988, como governador biônico, indicado pelo então presidente José Sarney. Por ter renunciado ao mandato de senador, em 2007, para escapar de um processo disciplinar que investigaria seu envolvimento nas denúncias levantadas pela Operação Aquarela, o TRE pôs Roriz na lista dos fichas-sujas do Distrito Federal. Vai ter a impugnação da candidatura mantida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas seus advogados contam com o recurso ao Supremo Tribunal Federal (STF) para mantê-lo na disputa.

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Plástica

Aos 74 anos, o fazendeiro e empresário Joaquim Domingos Roriz exibe boa forma física, tem o rosto remoçado por uma plástica, os cabelos brancos disfarçados por mechas tingidas de cinza, a diabete controlada pela dieta. A língua está solta para atacar e fazer a tradicional profusão de promessas, de “moradia e emprego a quem não tem”, mais “vantagens” aos servidores públicos e resolver todos os problemas dos invasores de terra.

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Ele chega de helicóptero aos locais próximos da campanha e, com jeito de coronel, passa para uma caminhonete Toyota Hilux, que o leva até ao meio da população. Um cabo eleitoral travestido de “homem do povo” dá a deixa e Roriz ataca. Duas semanas atrás, ao visitar Itapoã, por onde havia acabado de passar seu principal adversário, o petista Agnello Queiroz, Roriz soltou: “Aqui passou a bandeira vermelha, xô Satanás. Os vermelhos estão perdendo tempo aqui”, disse, referindo-se à cor do PT e ao fato de ter sido o “pai” de Itapoã, uma das 9 cidades que ele criou nas gestões anteriores – só ficou de fora do poder do DF entre 1995 e 1999, quando assumiu Cristovam Buarque (então no PT).

A satanização dos adversários vai mais longe. No Itapoã, ele disse que no governo do PT se pode “matar, roubar e estuprar”. As ofensas, que renderam um processo na Justiça, são recorrentes no histórico político de Roriz: em 1994, chamou de “piranha” Maria de Lourdes Abadia (PSDB), sua atual candidata ao Senado; em 2002, xingou um aposentado de “crioulo petista”; em 2003, chamou Cristovam de “assassino” e acusou-o de “não gostar de pobres” – mais processos e novas retratações.

As promessas são embaladas pelo discurso que prega uma luta de classes sui generis: “Eu gosto de pobre, os outros gostam dos ricos.” Por conta desse viés, Roriz se identifica com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e diz que quem não gosta dele é o PT, partido que ajudou a fundar em Goiás. “Eu respeito (Lula), realmente um homem carismático, mas o partido dele não me apoia.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.