O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumpriu o último compromisso internacional de seu mandato em terras paranaenses. Ontem, ele presidiu a 40.ª Cúpula do Mercosul, realizada em Foz do Iguaçu, na região oeste do Estado.
Em tom de despedida, ele ressaltou a importância do bloco e como hoje todos os países membros têm orgulho de participar do Mercosul. Lula ainda recebeu homenagens dos presidentes que participaram do encontro pelo seu desempenho em oito anos no governo brasileiro. O Mercosul completa 20 anos em 2010.
“O Mercosul demonstrou que, quando os dirigentes querem, quando estão convencidos, as coisas acontecem. Lembro da descrença que existia no Mercosul e alguns diziam que não valia a pena ficar no Mercosul. Hoje, nenhum de nós se queixa de ficar no Mercosul”, comentou Lula.
De acordo com ele, os futuros presidentes dos países membros e presidentes temporários dos blocos devem se esforçar para trazer Bolívia, Colômbia, Venezuela e outros países para o Mercosul.
O presidente brasileiro repassou o comando temporário do bloco para o presidente do Paraguai, Fernando Lugo. “Lugo, você terá o apoio de Dilma (Rousseff, presidente eleita) para efetivamente nos tornarmos um bloco forte e ensinar o que é democracia para muita gente que acha que sabe o que é”, afirmou.
O presidente paraguaio, por sua vez, disse que o Mercosul tem consciência de suas dificuldades, mas não olha apenas para os países que começaram o bloco, mas também para outros horizontes.
Homenagem
Durante a cúpula, Lula foi homenageado pelos presidentes dos países integrantes do Mercosul e de outros países convidados. O presidente da Bolívia, Evo Morales, disse que Lula merece o cargo de secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) e que até sente uma pontinha de inveja de tanta popularidade.
“Lula nos representou em todo o mundo. É um grande integrador do mundo. Um presidente que trabalha de maneira permanente pelos mais pobres, mas também respeitando o setor privado. Lula deve ser o secretário-geral da ONU. Ele merece isso”, revelou Morales, que foi aplaudido por todos os participantes do encontro.
Lula, posteriormente, afirmou que considera a declaração do presidente boliviano como um gesto de cortesia. “Eu acho que a ONU precisa ser dirigida por algum técnico competente da ONU, não pode ter um político forte na ONU porque não pode ser maior que os presidentes dos países”, afirmou Lula.
Para o presidente, este não é um cargo que pode ser articulado. “Só fico meio preocupado. Se virar moda presidente de País presidir a ONU, daqui a pouco os Estados Unidos estão disputando, além do conselho de segurança, a presidência das Nações Unidas. Aí tudo ficará mais difícil”, ressaltou.
Lula disse que, apesar de sair da Presidência da República, não vai deixar de ser político. “Faço política 24 horas por dia. Quero levar as experiências brasileiras bem sucedidas para o restante da América Latina e África. São políticas sociais exitosas e pode servir de base para outros países, se respeitar as particularidades de cada um”, ponderou Lula.
Lula minimiza investigação argentina
“Divergência faz parte”. Foi assim que o presidente Lula definiu a investigação da Argentina quanto a uma possível venda de produtos brasileiros do setor têxtil com preços abaixo do mercado.
A Argentina ameaçou criar sobretaxas para a entrada deste tipo de mercadoria no País. “O Mercosul não é um convento. Este não é um encontro de freiras. São chefes de Estado, de países soberanos, que sempre terão divergências. Defender seus interesses de desenvolvimento. Na União Europeia estão há 50 anos e o mesmo problema. O que precisamos é maturidade de necessidade de vestir o Mercosul porque não somos um único País. Não é um problema para o Mercosul essa diverg&,ecirc;ncia. É a razão para existência. Cada um dentro de seu tempo e necessidade tem que defender os interesses de seu País. Conjuntamente é preciso chegar a concessões para um consenso comum de interesse coletivo. Divergência faz parte”, opinou.
Lula ressaltou que a relação entre os países do Mercosul é muito melhor do que o entendimento entre Estados Unidos e China ou entre França e Inglaterra, por exemplo.
O presidente brasileiro disse que terminou a presidência temporária dele no Mercosul com uma relação extremamente amigável com os outros países membros do bloco.
Pessuti destaca a integração
O governador do Paraná, Orlando Pessuti, acompanhou a comitiva do presidente Lula em Foz do Iguaçu e destacou a importância da integração do bloco. “Muitas das ações hoje de caráter nacional poderão ser adotadas regionalmente, para facilitar o intercâmbio. Veja, por exemplo, como aumentamos o intercâmbio com o Paraguai: abrindo espaço no Porto de Paranaguá, abrindo espaço nas nossas universidades, nos nossos colégios. Isto permite que nossa relação de amizade e de trabalho seja cada vez maior e melhor. É assim que temos que atuar”, contou.
Pessuti considerou que a reunião em Foz do Iguaçu demonstrou a harmonia entre os presidentes dos países do Mercosul e entre os integrantes da América Latina. “Hoje temos, de certa forma, uma linha de pensamento, uma lição de ação harmônica entre os governantes. As divergências são naturais. Eu vejo, por exemplo, dentro do Brasil. Temos 26 estados e um Distrito Federal e temos aqui uma terrível guerra fiscal de um Estado com outro. E isto não nos faz menos brasileiros do que somos. Cada um defende o seu espaço, os seus interesses”, citou.
O governador ainda disse que foi maravilhoso receber o presidente Lula no Paraná no último compromisso internacional dele ainda no mandato de presidente da República.
“Foi possível ele receber, não só do Mercosul e da América Latina, mas também de nós, brasileiros paranaenses a homenagem que ele merecia receber no final desses oito anos de mandato como presidente da República”, avaliou.