Líderes do PSDB endossaram ontem as afirmações do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre uma suposta tentativa de aproximação de Luiz Inácio Lula da Silva, seu sucessor no Palácio do Planalto. Em artigo publicado na edição de domingo do jornal “O Estado de S. Paulo”, o ex-presidente questionou tal intenção e afirmou que, “para dialogar, não adianta se vestir em pele de cordeiro”. “Fica a impressão de que o lobo quer apenas salvar a própria pele”, escreveu o tucano.
Segundo a Folha de S.Paulo, Lula autorizou recentemente emissários em comum a propor uma conversa com o seu antecessor sobre a crise política, tendo como objetivo imediato conter as pressões pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff.
No artigo, FHC reiterou que uma possível conversa está condicionada a que a discussão seja sobre uma “agenda de interesse nacional e pública”. Para ele, “a hora para agir já não é mais, de imediato, do Congresso e dos partidos, mas, sim, da Justiça”. “Decidam a Justiça, o TCU e o Congresso o que decidirem, continuaremos a ter uma Constituição democrática a nos reger.”
Outros líderes tucanos concordam com a avaliação de FHC. “O PT fez tudo o que quis, levou as coisas da forma como levaram e não se dispuseram a fazer qualquer tipo de diálogo enquanto estavam em posição forte. Agora que a situação deles é difícil, eles procuram um diálogo que no fundo é apenas uma tentativa de salvação? Não contem conosco para isso”, disse o vice-presidente do PSDB e ex-governador de São Paulo, Alberto Goldman.
Para o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) uma conversa dos dois ex-presidentes seria “uma afronta à população, que agora majoritariamente deseja o impeachment da presidente”. Ele avalia que a proposta de diálogo teria o objetivo de levar a crise para a oposição – e aceitá-la seria um erro político do PSDB. “É uma tentativa de buscar uma tábua de salvação diante de uma situação irreversível em termos de credibilidade popular. Querem nos colocar no mesmo patamar de impopularidade.”
‘Ponderada’
Auxiliares de Dilma, por sua vez, minimizaram as críticas do ex-presidente, preferindo focar no que consideram um sinal de abertura para conversas. Na opinião de um ministro, Fernando Henrique fez uma avaliação “muito ponderada”. “Ele não descarta a hipótese de conversar. Se não quisesse falar com o governo, não teria escrito nada”.
Em entrevista à revista alemã de economia Capital, Fernando Henrique eximiu Dilma de envolvimento direto no escândalo de corrupção na Petrobras e a classificou como “uma pessoa honrada”. “Não tenho nenhuma consideração por ódio na política, também não pelo ódio dentro do meu partido, ódio que se volta agora contra o PT”, disse FHC, creditando a Lula a responsabilidade pelo caso.
Para setores do PT, a repercussão do artigo de FHC revela que o clima atual continua hostil. “Ainda que seja natural o diálogo entre partes diferentes no sistema democrático, eu não vejo que isso seja oportuno no momento. O clima não está estabelecendo as bases para se ter um diálogo maduro. Talvez isso seja algo para se buscar em outro momento”, disse o deputado Paulo Teixeira (PT-SP). O líder do PT na Câmara, Sibá Machado (AC), disse que o PSDB adota “postura retrógrada”. “Não se está discutindo aqui uma questão de Lava Jato. O que tem que discutir é a crise e a retomada do crescimento”, disse.
Machado ressaltou que o diálogo do governo com o ex-presidente Fernando Henrique e o PSDB é importante porque é um partido que governou o Brasil. “Não vejo nenhum demérito em que chefes de Estado queiram participar de uma rodada de conversas. É um gesto simpático, mas, se querem continuar com a disputa política, deixem para lá.”
Procurada, a assessoria do Instituto Lula disse que o ex-presidente não comentaria o artigo de FHC. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.