Troca de ministro

José Viegas Filho, diplomata de carreira, ministro da Defesa, depois de um período de turbulência no setor militar, que se arrastou por algumas semanas, encaminhou ao presidente da República o seu pedido de demissão. Manchete em todos os jornais brasileiros. É substituído pelo vice José Alencar, que assim passa a ocupar dois cargos, de quase igual nível.

O VICE ESTAVA DISPONÍVEL? – Claro que sim. Vice não faz nada. A sua função é de expectativa, tão-somente. Ele permanece no banco de reservas. Sempre pronto para entrar em campo. O presidente quando se ausenta do poder cede-lhe o cargo. Não raro, o titular esgota a pauta, com decisões antecipadas e deixa para o substituto apenas a parte representativa. O bom é arrumar para o suplente alguma atividade que lhe ocupe pelo menos parte de seu tempo. A ociosidade é perigosa. Foi o que aconteceu, José de Alencar é o novo ministro da Defesa e toma possa na próxima semana. Com isso, espera-se que ele pare de incomodar o ministro Palocci com as suas constantes críticas à política econômica, especialmente, quanto as altas taxas de juros.

CAUSAS DA DEMISSÃO – O Correio Brasiliense publicou fotos do jornalista Vladimir Herzog torturado e morto nos porões do II Exército, em São Paulo, durante os negros 20 anos dominados pelo regime militar. História antiga. Realmente, um crime inadmissível, com requintes de brutal perversidade. Mas, já pertence ao passado. Ao final mesmo, as fotos não eram do jornalista e, sim, de um padre canadense ainda vivo, que fez declarações a respeito.

O comando do Exército reagiu, desnecessariamente. Emitiu nota fazendo referências aos episódios que precederam o movimento de março de 64 e tentam justificar atuação dos militares da época, que teriam sido convocados pelo povo, através de campanhas realizadas em especial nas ruas das grandes cidades. O ministro não foi ouvido. Lula pediu nova nota, desmentindo a anterior. A nota saiu, assinada pelo comandante do Exército. Mas, o burburinho dentro dos quartéis continuou. E José Viegas perdeu o controle da situação.

DESCONTENTAMENTO DOS FARDADOS – Outrora, as três armas, Exército, Marinha e Aeronáutica, eram comandadas por ministros fardados, com acesso ao presidente da República. Foram rebaixados para comandantes de armas. Entre o chefe da nação e as corporações militares surgiu o Ministério da Defesa, criado no governo de Fernando Henrique, e, o que é pior, para aumentar a confusão, sempre o escolhido é um civil. De donos do Brasil para a situação atual ocorreu uma queda violenta de prestígio. Hoje são equiparados aos civis. E não podia ser de outra forma. Poderiam ter permanecido com a representação ministerial. Antecipou-se uma etapa.

TRANQÜILIDADE – Rei morto, rei posto. Novo ministro na ativa. O País continua tranqüilo. Não há nenhum risco para a democracia brasileira. Ao contrário, as últimas eleições demonstraram o espetacular amadurecimento de nosso povo.

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