Travesti leva sugestões sobre diversidade para Requião

Apenas um integrante do movimento LGBT compareceu, ontem, à Escola de Governo, reunião semanal do secretariado de Roberto Requião (PMDB): a travesti Andrielly Vogue, ex-candidata a vereadora pelo PT em Curitiba. Comportada, a travesti assistiu a uma escolinha praticamente toda dedicada ao tema.

O secretário especial de Assuntos Estratégicos, Nizan Pereira, destacado pelo governador na semana passada para comandar um grupo de trabalho pela diversidade foi, também, o porta-voz do governo na “escolinha”, encarregado a responder, mostrando ações do Estado, às acusações de homofobia contra o governador, que, na semana passada, atribuiu às passeatas gays o crescimento de casos de câncer de mama em homens.

O governador pouco interferiu na fala de Nizan e quando o fez, apesar de medir as palavras, voltou a usar de ironia, como quando comentou o número de lugares vazios no auditório do Museu Oscar Niemeyer durante a reunião.

“Geralmente eu me enfureço com isso, mas hoje o Moreira (Carlos chefe de gabinete) me alertou que o pessoal ainda não voltou da parada que teve domingo no Rio de Janeiro”.

De concreto, Nizan apresentou as ações já adotadas pelo governo e confirmou para o próximo dia 10 a realização da primeira reunião do grupo de trabalho especial para discutir políticas para a diversidade. “Ao contrário de alguns seguimentos que começaram a falar disso há uma semana, nós tratamos desse assunto há sete anos”, disse.

O secretário, que destacou o Núcleo de Gênero e Diversidade Sexual da Secretaria de Educação e as ações de combate à homofobia nas escolas, além da ação da Secretária de Segurança e de Justiça que garantiu a identidade feminina aos travestis.

“Tudo isso está sendo feito sem nenhum aproveitamento político. Apenas porque política tem que existir para apoiar e fazer valer o direito de quem tem poucos direitos ou não tem os direitos respeitados”, concluiu.

Andrielly disse que participará ativamente do grupo de trabalho e ontem já levou algumas propostas ao secretário. “Queremos segurança e Justiça. E queremos nosso direito a identidade de gênero realmente respeitado. Pois mesmo tendo identidade feminina, quando fui presa (ano passado, por dano ao patrimônio público) fiquei numa cela com outros 12 homens e rasparam todo meu cabelo. Também reivindicamos a criação de um programa “Paraná sem homofobia’ e o fim do preconceito no poder”, disse, lembrando que 19 travestis foram assassinados recentemente em Curitiba.

Nizan disse que todas as ações serão avaliadas e também brincou, dizendo que o governo trabalha sério, mas com bom humor, sugeriu ao governador que não mais o chamasse de “Doutor Negrão”, a não ser na intimidade, pois senão poderia ser enquadrado como racista.

Ao final do encontro, que foi mais curto que o normal, Requião deu seu recado ao ministro do Meio Ambiente Carlos Minc e ao governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, que, na parada Gay do Rio, criticaram as declarações de Requião. “Eles devem ter se divertido. Vocês jamais me verão dançando em uma parada gay, mas eu respondo com esse tipo de ação que anunciamos aqui”, declarou.

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