De surpresa, e a duas horas e quarenta minutos do início do jantar da cúpula do PMDB com a presidente Dilma Rousseff, o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), anunciou em uma nota pública que não participaria do encontro, no Palácio da Alvorada. No texto, afirmou que pesou em sua decisão o fato de o jantar da presidente da República com o PMDB tratar do futuro da coalizão de governo. E ele, por ser presidente do Senado e Congresso, deveria colocar a instituição acima da condição partidária.

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No entanto, o boicote de Renan ao jantar de Dilma com o PMDB deveu-se a uma série de desentendimentos do presidente do Senado com o governo. A começar do desejo da presidente da República de manter no cargo o presidente interino da Transpetro, Claudio Campos. A notícia já chegou ao PMDB e ao presidente do Senado, que é padrinho político do ex-presidente da estatal Sérgio Machado.

Este foi afastado depois de seguidas licenças porque apareceu num dos depoimentos do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa como beneficiário de uma propina de R$ 500 mil. Machado negou que tenha pegado o dinheiro. Mas, em razão das suspeitas sobre Machado, a consultoria Price WaterhouseCoopers (PWC) exigiu que Machado saísse para ter condições de auditar a Transpetro com isenção.

Além da perda de influência na Transpetro, Renan Calheiros também demonstra preocupação com a situação do Estado de Alagoas, onde seu filho, Renan Filho (PMDB), elegeu-se governador. Como a situação econômica do País é ruim, o Planalto não tem cumprido a promessa de que ajudaria a família Calheiros com a liberação de verbas para o governo do Estado iniciar a administração “bombando”, segundo o jargão político. Hoje, Alagoas está numa situação econômica tão difícil quanto a de outros Estados e, pior, sem perspectivas de melhora.

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Tudo isso levou Renan a passar de fiel da governabilidade no primeiro mandato de Dilma à condição de porta-voz das insatisfações suas, e do PMDB, neste início de segundo mandato. Na semana passada, ele disse que a coalizão governista era “capenga” e que houve um “escorregadão” na condução da política fiscal pelo primeiro governo da presidente Dilma. Ele exigiu ainda que o governo também se sacrifique no aperto fiscal, não deixando o ônus apenas para o aliado. Na quinta-feira, 26, Renan promoveu um café da manhã entre peemedebistas e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas não deu mostras de que mudou o humor. No mesmo dia, anunciou o convite de Dilma para o jantar de hoje: “Conversar é sempre recomendável, não arranca pedaço. É um exercício permanente. A responsabilidade do PMDB é dar fundamento da coalizão, podemos até não conseguir, podemos até tentar e essa é uma oportuna para tentar”, afirmou Renan, em rápida entrevista.

Sem Renan no jantar de hoje, havia a expectativa de que a reunião não serviria para seu principal objetivo: reaproximar a legenda da presidente. De acordo com senadores do PMDB, a não ser para que a presidente e os integrantes do partido olhassem nos olhos um do outro, decisões concretas nem eram esperadas. O senador Romero Jucá (PMDB-RR), por exemplo, não via possibilidades de avanço nas negociações que visam a dar maior coesão à base aliada. “Enquanto não acertarem as coisas, não adianta fazer jantar. Jantar é para comemorar o que foi acordado”, disse ele.

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O maior problema na convivência do PMDB com o Palácio do Planalto, hoje, de acordo com dirigentes da legenda, é o fato de o governo não ouvir o partido antes de tomar qualquer decisão. Eles lembraram que na sexta-feira, 27, a presidente Dilma Rousseff editou medida provisória sobre a desoneração da folha de pagamentos das empresas de novo sem ouvir nenhum peemedebista.

O partido se queixa ainda de só ser procurado nas horas em que o incêndio já se propagou. É o caso das MPs do ajuste fiscal que tratam de questões trabalhista e previdenciária. O PMDB quer que o PT assuma a defesa delas, mas os petistas estão fugindo do debate. E é possível que boa parte do PT até vote contra as medidas provisórias, pois os parlamentares não querem aparecer nos mapas de votação feitos pelas centrais sindicais como “inimigos dos trabalhadores”.

O PMDB alimentava a esperança de que a presidente Dilma convidaria, no jantar, o vice-presidente da República e presidente do partido, Michel Temer, a fazer parte de seu conselho político. Com isso, o PMDB poderia a ajudar nas decisões de governo, hoje entregue somente aos petistas.