Tranqüilidade marca as eleições no Paraná

Na maior eleição da história brasileira, 6.663.384 eleitores paranaense foram às urnas ontem votar para deputado estadual, federal, dois senadores, governador e presidente. Apesar da grandiosidade dos números, o processo eleitoral foi considerado ‘tranqüilo’ pelo presidente da comissão de apuração do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), Moacir Guimarães. “Cada eleitor gastou uma média de 1 minuto e meio para digitar 19 números, mais seis teclas de confirma. Só temos a comemorar porque o resultado da votação é uma prova de que a população está acostumada ao voto eletrônico”.

Segundo informações do TRE, 134 urnas apresentaram problemas e tiveram de ser substituídas. Em Pinhais e Telêmaco Borba, a votação teve de ser feita nas cédulas. Uma urna em Colombo também teria apresentado problemas e obrigado os eleitores a votarem manualmente. A assessoria do Tribunal, porém, não confirmou a informação.

O número de ocorrências policiais também foi considerado normal pelo TRE. O último relatório parcial emitido pela Polícia Militar, concluído às 17h após o término da votação, apontava 1612 detenções no interior e 99 em Curitiba e Região Metropolitana. A boca de urna foi a principal responsável pelas prisões. Segundo o major Robérson, responsável pela ‘cadeia’ instalada no ginásio da PUC-PR, também foram registrados casos de embriaguez e briga entre fiscais de partidos. “A maioria do pessoal é humilde e estava tentando ganhar um dinheiro. Eles preencheram o boletim de ocorrência e foram liberados. O material apreendido fica em mãos do Tribunal”, diz Roberson.

Paralelas

O TRE promoveu também uma eleição paralela com duas urnas que vieram da 4ª Zona Eleitoral em Curitiba e da 104ª Zona do município de 1º de Maio. As urnas receberam votos de fiscais dos partido e de representantes de Organizações Não-Governamentais (ONG) que tiveram a oportunidade de conferir a apuração de seus votos. O objetivo do pleito simulado foi testar a confiabilidade do sistema. Segundo o juiz José Laurindo, presidente da Comissão da Eleição Paralela, houve 100% de reciprocidade entre os votos e o resultados final. “Não tivemos nenhum problema e isso comprovou que o sistema é perfeitamente confiável”.

Candidato detido no Interior

Elizabete Castro

O deputado estadual, Antonio Martins Anibelli (PMDB), foi detido ontem em Clevelândia, região Centro-Sul do Estado, acusado de compra de votos, crime previsto no artigo 299, do Código Eleitoral. Anibelli foi ouvido no fórum eleitoral da cidade às 13h e liberado apenas às 17h, após o encerramento da votação. De acordo com o coordenador da assessoria jurídica do PMDB, Luiz Carlos Delazari, o eleitor que provocou a denúncia, em depoimento à polícia, negou que tivesse sido procurado pelo deputado para negociar seu voto.

Delazari disse que Anibelli foi vítima de uma armadilha política montada pelo grupo adversário do PMDB na cidade. De acordo com o advogado, assessores do deputado estadual Valdir Rossoni (PTB) teriam denunciado o eleitor a um policial que teria apreendido uma nota de R$10. Conforme o advogado, o dinheiro entregue ao policial teria sido parte de uma fraude montada para incriminar o eleitor e o deputado peemedebista.

“Armação”

O deputado Antonio Anibelli relatou que estava deixando o Colégio João XXIII, onde havia votado, quando encontrou um amigo, Pedro Soares. Os dois, segundo o deputado, estavam conversando quando foram abordados por um assessor do prefeito da cidade, Vanderlei Valério (PSDB), que apóia o deputado estadual Valdir Rossoni (PTB), candidato à reeleição. Anibelli contou que o assessor, conhecido por “Dinho” e que atuava como fiscal eleitoral aproximou-se de Pedro Soares, colocou a mão em seu bolso e retirou o título eleitoral e uma nota de R$10. “Ele chamou então o policial e começou a dizer que eu tinha dado o dinheiro para o Pedro. Foi tudo forjado”, acusou.

O deputado Valdir Rossoni(PTB) confirmou que Anibelli é seu concorrente na cidade, mas negou envolvimento no episódio. “Se eu tivesse feito armação eu assumiria porque não se pode comprar votos mesmo. Mas não fiz”, afirmou o deputado petebista.

Atraso na troca de máquina

Uma das urnas eletrônicas instaladas no Colégio Decisivo, no Cristo Rei, só começou a funcionar às 10h30. Com isto, se formou enorme fila e a espera para votar chegou a duas horas. Os eleitores reclamaram da demora para trocar o aparelho já que muitos de seus compromissos foram afetados.

Sayonara Ribas, 32 anos, chegou ao local às 9h30 e até as 11h30 ainda aguardava. Ela estava pronta com as duas filhas para ir ao litoral. “Estou até de biquini, agora a metade do dia está perdida”, reclamou. Mayumi Yuma, 21 anos, também estava cansada devido a demora. “A gente chega e demora para achar o lugar certo da fila, tem muita gente andando nos corredores e furando fila. Devia estar mais organizado”, reclamou. O seu programa também foi por água abaixo, os pais dela estão na capital para votar e iam aproveitar o dia para ficar juntos, mas grande parte do tempo foi gasto na fila.

Observadores se impressionam

Dois observadores americanos e 45 paraguaios acompanharam ontem pela manhã o sistema de votação eletrônica no Paraná. Eles estiveram em Campo Largo, uma das cinco cidades que testou pela primeira vez a votação na urna eletrônica acoplada a uma impressora. Os outros municípios a experimentar o novo método foram Rolândia, Lapa, Cornélio Procópio e Telêmaco Borba.

Esta é a terceira vez que observadores internacionais acompanham as eleições do Brasil. A primeira foi em 98 e depois em 2000. Segundo o presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), desembargador Gil Trotta Telles, eles ficaram impressionados com a urna eletrônica. “Eles possivelmente irão adotar o mesmo sistema em seus países”, adiantou.

O Paraguai já utilizou urnas eletrônicas brasileiras no ano passado, quando o Paraná emprestou 176 unidades. “Nas eleições do ano que vem, em abril, eles irão usar cerca de duas mil urnas”, conta o presidente. De acordo com o desembargador, a experiência positiva do Brasil com o sistema de votação eletrônica tem sido reconhecida em todo o mundo, tanto pela agilidade como pela segurança dos votos.

Para Trotta Telles as eleições realizadas no país devem ser motivo de orgulho. “Depois da última eleição realizada para presidente nos Estados Unidos, que foi um desastre, eles vieram para cá para aprender conosco.”

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