Em um discurso inflamado, a deputada Tia Eron (PRB-BA) criticou os parlamentares que a citaram nas reuniões anteriores do Conselho de Ética. Voto de minerva no processo que pode culminar na cassação do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ela disse que votará com a sua consciência, mas manteve o suspense sobre a sua posição na votação desta terça-feira, 14.

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Ela também negou ter sofrido influência do ministro Marcos Pereira, presidente licenciado do PRB, mas admitiu que recebeu “conselhos” do senador licenciado Marcelo Crivella (PRB-RJ) e do deputado Celso Russomano (PRB-SP) – pré-candidatos às eleições municipais. “Vossas excelências me julgam por aquilo que são”, rebateu a deputada, acusada de estar sendo influenciada para votar a favor de Cunha.

“Marcos Pereira é professor, vossas excelências deveriam ter uma aula com ele”, ironizou. Eron afirmou que Pereira a deixou livre e em paz para votar como quisesse. “Hoje, diferentemente da semana passada, me surpreendeu os senhores não me procurarem, nem se quer citarem meu nome, entenderam que de fato não mandam nessa nega aqui. Nenhum dos senhores manda”, declarou a deputada. Eron afirmou que, durante a votação da semana passada, que foi adiada, estava assistindo aos pronunciamentos do colegiado pela televisão “para poder olhar nos olhos de cada um”. “Os olhos refletem mais do que a boca tem de coragem de dizer. Eu fiquei observando e durante as falas de determinados colegas eu chegava a ficar em pé para poder ouvir.”

A deputada fez uma comparação do período de análise do processo, que já dura quase nove meses, com uma gestação. “Precisam chamar Tia Eron para resolver. Tia Eron está aqui para resolver o que o os homens sozinhos não conseguiram resolver”, provocou. A congressista reclamou de ter sido “tão citada, convocada, tripudiada e até requisitada”, pelos membros do colegiado. “E aqui eu estou, como sempre me comprometi com esse Brasil desde o primeiro dia que cheguei nesse conselho”.

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Em resposta ao deputado Nelson Marchezan Júnior (PSDB-MG), que questionou na semana passada se ela teria sido “abduzida”, ela disse que não há espaço para esse tipo de “gracejo” no colegiado, pois o momento pede seriedade. Eron defendeu ainda que o conselho precisa ser repensado para atender os anseios da população. “Estamos aqui como julgadores, cada um precisa primeiro ter a capacidade de olhar para dentro de si. Esse conselho precisa ser ‘ressignificado'”, sugeriu.

Eron sentou ao lado do deputado Júlio Delgado (PSB-MG), contrário ao presidente afastada da Câmara, e citou ele ao fim de sua fala. “Quero votar com aquilo que Delgado falou no dia do impeachment, ele disse que o irmão dele falou ‘você não está em paz’. E você pode brigar com sua mulher, com seus eleitores, com o Brasil, mas você não pode votar contra a sua consciência, é o que farei na tarde de hoje”, concluiu.

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Até o momento, a maioria dos deputados que se pronunciou declarou posição contrária a Cunha. Ainda assim, caso Tia Eron vote a favor de Cunha e o Conselho não leve adiante o processo de cassação do peemedebista, o PSOL, um dos autores da denúncia, já adiantou que entrará com um recurso no Supremo Tribunal Federal (STF).