Planejado para ser uma espécie de “ponte” entre o Fórum Social Mundial (FSM) 2010, realizado esta semana em Porto Alegre (RS), e o FSM 2011, a ser realizado em Dacar (Senegal), o Fórum Social Mundial Temático Bahia, que chegou ao fim hoje, tinha também como objetivo trazer uma inovação ao ciclo de discussões e encontros de movimentos sociais, que completou uma década este ano.

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No entanto, o que se viu ao longo dos três dias em Salvador não foi o que sugeria o roteiro. Em vez de debates e propostas, o fórum temático apresentou, em sua programação de quase duas centenas de eventos, a reedição de discursos-chavão “contra os poderosos”, revestida de forte cunho eleitoral.

O ponto alto do fórum baiano seria hoje, quando era esperada a presença de 15 presidentes – entre eles o brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva -, para que fosse realizado um debate sobre as perspectivas de países em desenvolvimento para a retomada do crescimento mundial após a crise econômico-financeira global.

 

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Nem Lula, recuperando-se de uma crise hipertensiva, nem nenhum dos outros chefes de Estado convidados compareceu. Segundo a organização, os que declinaram os convites alegaram problemas de agenda. Alguns sequer responderam. O número total de participantes também foi “enxugado”: dos 30 mil previstos inicialmente, segundo a organização, fizeram inscrição cerca de 15 mil – mas estima-se que não mais de 10 mil tenham estado de fato nos eventos.

Sem a principal âncora do fórum baiano, o foco foi direcionado para as 16 mesas de debate e painéis sobre mazelas sociais diversas dos países não-desenvolvidos. Os temas abrangiam dos desafios resultantes da crise à intolerância sexual, passando por reforma agrária, violência urbana, estratégias de governança e mídia democrática.

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Apesar da diversidade temática, houve pouco debate e quase nada de propostas práticas. Em quase todas as reuniões, expositores e plateia – majoritariamente formada por integrantes de movimentos sociais – mostraram seguir a mesma linha de pensamento, sem dar espaço ao contraditório. Os encontros terminavam por tentar demonstrar que a “culpa” pelos problemas sociais é, principalmente, das “grandes corporações”, dos “governos elitistas”, dos banqueiros ou até da “grande imprensa”.

Grandes empresas foram foco também de membros do governo. “Elas reclamam por pagar impostos altos, mas precisam pagar, para que o povo receba os benefícios do governo”, alegou o ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Samuel Pinheiro Guimarães, durante a plenária Diálogos e Controvérsias entre Atores Sociais e Governo Brasileiro.

Ao fim dos debates, no início da tarde de hoje, uma assembleia com representantes dos movimentos sociais presentes ao fórum aprovou a Carta de Salvador. O documento é semelhante à Carta de Porto Alegre, apresentada na sexta-feira.