Com o governo acuado por uma sucessão de crises políticas e pressionado pelo cenário de retração na economia, o presidente Michel Temer tenta repactuar sua gestão dando mais espaço para o PSDB. Temer ofereceu à legenda tucana a articulação política, mas a pasta da Secretaria do Governo – vaga desde a saída de Geddel Vieira Lima – foi recusada. A intenção do PSDB é ter influência na área econômica, considerada determinante para o sucesso da gestão.

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O posto que era ocupado por Geddel é considerado pelo PSDB como uma fonte de desgaste, que não atende a expectativa do partido, o principal aliado do governo do peemedebista no Congresso. A demanda dos tucanos é ter protagonismo na formulação da política econômica comandada pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Líderes do PSDB garantem que a sigla não age para desestabilizar o titular da Fazenda.

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Mas, segundo o Estado apurou, entre as possibilidades apresentadas a Temer está a de um quadro do PSDB assumir o Ministério do Planejamento numa futura reforma ministerial, que aconteceria no início do próximo ano. Atualmente, a pasta é comandada por Dyogo de Oliveira, que não pertence a nenhum partido político e deve ser oficializado no cargo após ficar por seis meses como interino.

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A medida a ser divulgada nos próximos dias é uma forma de Temer respaldar a atual equipe liderada por Meirelles, que passou a ser alvo de críticas após os indicadores mostrarem que a atividade econômica continua em queda.

Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no terceiro trimestre deste ano o Produto Interno Bruto (PIB) recuou 0,8% em relação ao trimestre anterior. É a sétima retração seguida nessa base de comparação – a mais longa de toda a série histórica do indicador, que teve início em 1996.

A efetivação de Oliveira, contudo, não é garantia de permanência para o próximo ano. O Planejamento já esteve na mira do PSDB. Logo após Temer assumir interinamente a Presidência, em maio, um dos nomes cogitados para ocupar o Planejamento foi o da economista Ana Carla Abrão Costa, atual secretária de Fazenda do Estado de Goiás, comandado por Marconi Perillo (PSDB).

Antes de assumir a cadeira estadual, Costa ocupou uma das diretorias do Itaú Unibanco. A secretária também é casada com o economista Pérsio Arida, um dos idealizadores do Plano Real.

Jogo duplo

Em caráter reservado, aliados de Temer dizem ter receio de que o PSDB rompa com o Planalto em 2017 caso a economia permaneça estagnada e a popularidade do presidente muito baixa – o que poderia comprometer o projeto do partido em 2018, ano da sucessão presidencial.

No governo, são recorrentes as reclamações de que os tucanos estariam enviando sinais trocados. De um lado fazem juras de lealdade, mas de outro criticam a condução da economia.

Dois exemplos desse “jogo duplo” envolvem o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O primeiro foi uma frase dele comparando o governo Temer a uma “pinguela”. A declaração irritou auxiliares do presidente.

Também incomodou o que foi considerado um “balão de ensaio”, lançado por um aliado de FHC, Xico Graziano – que defendeu uma possível candidatura dele à Presidência num eventual colégio eleitoral em caso de cassação da chapa Dilma-Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A ação foi proposta pelo PSDB.

Plano A

Nas conversas recentes com Temer, a cúpula do PSDB garantiu lealdade até o fim do mandato, em 2018, mas cobrou dele um discurso mais claro na área social. A avaliação dos tucanos é que a retórica oficial não pode ser apenas baseada no ajuste fiscal.

“Não existe alternativa para o PSDB a não ser o governo dar certo. Não há aposta em plano B. Vamos ajudar o presidente Michel até o final a fazer essa travessia”, disse ao Estado o senador Aécio Neves, presidente nacional do PSDB.

O dirigente tucano nega que a sigla ambicione novos cargos no Executivo, mas o assunto já é tratado abertamente no Congresso. […]”Vai chegar um momento que o governo terá mais gente do PSDB. Não estou convencido que seja agora”, afirmou o deputado Jutahy Junior (PSDB-BA).

Questionado sobre a ideia de repactuar o espaço dos tucanos no governo, Fernando Henrique disse que o partido é responsável pela gestão. “Acho que o PSDB, tendo tomado a posição que tomou em relação ao impeachment, é responsável (pela gestão Temer também). (O partido) Deve fazer o máximo de esforço para que o governo dê certo. Agora, é preciso que o governo queira dar certo e se organize.” (Colaborou Gabriel Manzano Filho)