Depois de afirmar, na semana passada, que a presidente Dilma Rousseff não aguentaria até o fim do mandado com 7% de popularidade e criar um constrangimento no governo, o vice-presidente Michel Temer se encontrou com a petista, pela primeira vez, no palanque montado na Esplanada dos Ministérios, onde os dois assistiram, lado a lado, o desfile de 7 de setembro. As conversas foram poucas e sem muita intimidade. Apesar de terem trocado beijinhos na chegada e na saída, era visível que ambos não estavam à vontade. Ao fim do desfile, cada um tomou seu rumo e a primeira conversa de trabalho entre eles está marcada para amanhã, terça-feira, às 9 horas, no Palácio do Planalto, durante a reunião de coordenação política do governo.

continua após a publicidade

Mesmo após as declarações de Temer, tentando consertar o estrago, dizendo que não conspira contra ela e que está certo de que ela concluirá o mandato em 2018, as relações PMDB-PT continuam estremecidas. Aliado a isso, há uma desconfiança e até preocupação com o que poderá resultar do jantar de hoje de Temer com os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros, os sete governadores peemedebistas e os seis ministros do partido, no Palácio do Jaburu, residência de Temer em Brasília.

Oficialmente, o tema do encontro será uma extensão do já realizado na quinta-feira passada pelo governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), em busca de uma política de consenso dos governadores peemedebistas sobre a crise econômica que já atinge Estados. No entanto, é voz corrente entre representantes do partido que a política, principalmente a tensa relação entre PT, PMDB, Dilma e Temer, será um dos pratos principais do jantar. “Certamente alguma coisa sobre o momento político será conversado”, relatou um assessor.

Um parlamentar próximo a Temer comentou que ele está “tranquilo” e que o jantar desta vez foi pedido pelos governadores e não foi marcado pelo vice-presidente. Segundo ele, o encontro demonstra a preocupação dos governadores do partido sobre a crise financeira e lembra que um dos Estados comandados pelo PMDB, o Rio Grande do Sul, há dois meses paga parceladamente salários dos servidores.

continua após a publicidade

O governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB), informou que o jantar servirá para retomar uma agenda de reformas – trabalhista, previdenciária e tributária – que está parada. Além disso, com o objetivo de defender uma modernização em seu Estado, Hartung pedirá aos peemedebistas que reforcem a importância do capital privado para avanços em infraestrutura.

Ontem, após o desfile de 7 de setembro, o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Edinho Silva, afirmou que o encontro não preocupa o governo politicamente. “Os partidos se reúnem, o PT recentemente reuniu todos seus governadores, suas lideranças”, disse. “Todos os partidos da base fazem o mesmo. Não podemos cada vez que um partido se reúne achar que isso é problema”, afirmou.

continua após a publicidade

Edinho fez ainda um gesto de afago a Temer e o classificou como um aliado “muito correto” e “leal” à presidente Dilma Rousseff (PT). Afirmou ainda que Temer era um símbolo da coalizão partidária de sustento ao governo federal. “O vice-presidente Michel Temer é o maior símbolo dessa união do PT com o PMDB, da construção de um governo de coalizão de muitos partidos”, disse o ministro.

Na semana passada, a declaração de que o governo nenhum resistiria a três anos e meio com índice tão baixo de popularidade como o de Dilma (7%) foi considerada “desastrosa” e “assustadora” pelo Planalto. No domingo, a assessoria de Temer divulgou nota oficial na qual informou que o vice-presidente descartava a possibilidade de qualquer movimento de conspiração. “A hora é de trabalho e de união. Apesar de seu zelo, e atento ao cargo que ocupa, não são poucas as teorias divulgadas de que suas atitudes podem levar à ideia de conspiração”, informava trecho da nota.