O presidente Michel Temer pediu “mais otimismo” aos brasileiros ao participar, nesta sexta-feira, 8, do início dos testes do Laboratório de Geração de Energia Nucleoelétrica (LabGene), no Centro Experimental Aramar, da Marinha, em Iperó, interior de São Paulo, onde está sendo construído o protótipo terrestre do submarino nuclear. O modelo definitivo está em construção no arsenal da Marinha em Itaguaí, no litoral do Rio de Janeiro.

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Temer também lançou a pedra fundamental do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB) que vai produzir radioisótopos para aplicação em medicina nuclear. “Vamos nos inspirar nesses extraordinários empreendimentos tecnológicos para sermos otimistas e reafirmar que o Brasil merece esse otimismo”, disse.

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O presidente acionou o conjunto de motores, turbogeradores e equipamentos que vão simular o sistema de propulsão e operação do submarino. Os equipamentos estão dispostos na parte já construída do casco da embarcação, que terá 70 m de extensão por 10 de diâmetro – um réplica em tamanho natural do submarino que vai para o mar. São quatro conjuntos contendo o freio dinamométrico, o motor elétrico de propulsão, os turbogeradores e o reator nuclear, ainda em fase de construção.

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Quando em plena operação, o LabGene terá uma planta nuclear com 48 megawatts de potência térmica, capaz de alimentar os subsistemas necessários à propulsão do submarino. A energia produzida pelo reator abasteceria uma cidade de 20 mil habitantes. Os equipamentos, inclusive o reator, serão testados em “condições ótimas de segurança”, segundo a Marinha, antes de sua instalação a bordo do submarino nuclear. “Não são apenas palavras, mas execução, ação, concreção”, disse Temer.

O presidente lembrou ter estado em Aramar há sete anos e disse que pode verificar a “extraordinária” evolução dos projetos. “É momento que traz justificado orgulho a todos os brasileiros. Vemos uma síntese de perseverança, talento cientifico e compromisso com o País. São projetos que elevam nosso patamar em ciência e tecnologia, promovem o desenvolvimento do Brasil.”

Social

No lançamento da pedra fundamental do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), o presidente destacou a importância social do projeto, concebido em parceria com a Argentina, após encontro com o presidente Maurício Macri, no ano passado. “Hoje somos obrigados a importar radiofármacos para várias doenças, inclusive câncer. Vamos produzir nós mesmos o material para o SUS. Vamos aumentar o atendimento e levar esperança a quem precisa da ajuda.”

Conforme Temer, o governo assumiu compromisso para investir R$ 750 milhões no projeto até 2022, com aporte inicial, este ano, de R$ 30 milhões. O complexo do reator inclui um conjunto de laboratórios para processamento e manuseio de radioisótopos, feixes de nêutrons, análise de pós-irradiação e de radioquímica, análise de ativação, além de instalações de apoio a pesquisadores.

Na prática o RMB é resultado da tecnologia desenvolvida pela Marinha para a construção do reator do submarino. Enquanto um sistema equipa o primeiro submarino movido à propulsão nuclear construído no Brasil, o outro produz radiofármacos que permitirão ampliar o uso da medicina nuclear no tratamento de pessoas com câncer, por exemplo. A construção do reator multipropósito está sob a responsabilidade da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.

Em setembro de 2017, durante a reunião de cúpula de chefes de Estado do Mercosul, na presença de Temer e do presidente argentino Maurício Macri, foi assinado contrato entre a Fundação Parque de Alta Tecnologia da Região de Iperó (Patria) e a empresa argentina Investigación Aplicada (Invap) para iniciar um projeto detalhado dos sistemas nucleares para a futura construção do RMB. Um reator será construído também na Argentina. Macri foi convidado por Temer a comparecer à solenidade em Iperó, mas declinou. Com a instalação do RMB em área adjacente a Aramar, cedida pela Marinha, a região terá dois reatores nucleares – esse e o do LabGene.

O programa nuclear da Marinha foi iniciado em 1979 visando à construção de submarinos com propulsão nuclear. Na primeira fase, o programa foi dedicado ao domínio do ciclo do combustível nuclear, com a produção de pastilhas de urânio enriquecido. A primeira usina de enriquecimento foi inaugurada há 30 anos. A fase atual envolve a construção do protótipo em terra do submarino, em tamanho real, e do reator nuclear. O submarino terrestre estará pronto em três anos. A embarcação nuclear que vai para o oceano deve ser concluída entre 2028 e 2030.

O evento teve as presenças dos ministros da Marinha, Defesa, Saúde, Ciência e Tecnologia, além de oficiais graduados e adidos diplomáticos, como o embaixador da Ucrânia no Brasil, Rostyslav Tronenko – o país já foi considerado potência nuclear quando integrava a União Soviética.