O presidente Michel Temer disse estar acostumado a “pequenos embaraços” como a mais recente crise em sua base parlamentar, provocada pela manobra que permitiu a manutenção dos direitos políticos da ex-presidente Dilma Rousseff. Segundo ele, essa questão acabará sendo decidida pelo Supremo Tribunal Federal (STF). “Ela sai do plano exclusivamente político para um quadro de avaliação de natureza jurídica, o que convém às instituições brasileiras”, afirmou.
Temer deu as declarações em Xangai, na China, onde realiza sua primeira viagem oficial desde a posse na quarta-feira, 31. “Se o Senado tomou essa decisão, certo ou errado, não importa, o Senado tomou a decisão e parece que agora ela está sendo questionada juridicamente”, afirmou Temer.
A nova crise na base aliada abala a mensagem de estabilidade política que o presidente pretende transmitir a investidores em sua primeira viagem internacional. “Ontem (quarta) mesmo, antes de sair de lá, eu falei com companheiros do PMDB, do PSDB, do DEM e essa questão toda estará superada. Não se tratou de uma manobra, mas de uma decisão que se tomou.”
O peemedebista disse que usa uma mensagem de pacificação e reunificação do País que demandará um certo tempo para ser implementada. “Sinto que os brasileiros querem isso”, afirmou. Segundo ele, há pessoas que se “insurgem” contra essa mensagem, mas afirmou que são “um ou outro movimentozinho”.
Acompanhando Temer na visita à China, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), negou que a separação do julgamento do processo de impeachment do destaque que analisou a perda de direito políticos da presidente tenha sido uma manobra. Em sua opinião, será inevitável que a questão seja resolvida pelo STF, que estaria dividido sobre o assunto. “Era natural que posições antagônicas nesse processo final de julgamento viessem à tona, mas elas serão administradas politicamente”, declarou.
Calheiros afirmou que a manutenção dos direitos políticos de Dilma não cria precedentes para o julgamento de parlamentares que estão sendo investigados pela Lava Jato e que poderão perder o mandato. “Não há similaridade entre o caso da presidente e o de Eduardo Cunha”, afirmou, em referência ao ex-presidente da Câmara dos Deputados. “A inabilitação de um parlamentar não tem nada a ver com a inabilitação do presidente da República.”
O presidente do Senado defendeu sua decisão de separar os dois julgamentos e disse que ela tem base no regimento. “Não foi manobra. É o regimento. Nada nos obriga a conversar sobre o regimento com as pessoas. Elas precisam ficar atentas aos desdobramentos do regimento”, disse. “É ridículo alguns partidos reivindicarem a necessidade de ter conhecimento prévio do regimento.” Calheiros disse ainda que Temer não manifestou insatisfação com a separação dos processos.