O nome do deputado Michel Temer (PMDB-SP), presidente da Câmara e do PMDB, aparece no arquivo secreto da Construtora Camargo Corrêa – documento com 54 planilhas que sugerem contabilidade paralela da empreiteira.
Temer é citado 21 vezes, entre 9 de outubro de 1996 e 28 de dezembro de 1998, ao lado de quantias que somam US$ 345 mil. Ele refutou com veemência a citação ao seu nome. As planilhas constam dos autos da Castelo de Areia, operação integrada da polícia Federal (PF) e da Procuradoria da República.
O documento que aponta o parlamentar foi encontrado na residência de Pietro Bianchi, executivo da construtora. Realizada no dia 25 de abril, a busca foi autorizada pelo juiz da 6.ª Vara Criminal Federal, Fausto de Sanctis.
As fichas listam autoridades, administradores e servidores de tribunais de contas, prefeituras, governos estaduais e autarquias que teriam sido destinatários de recursos da Camargo Corrêa. Políticos teriam recebido “por fora” para campanhas eleitorais. Na contabilidade da empreiteira recolhida pela PF, todos aqueles que teriam recebido dinheiro são classificados como “clientes”.
O foco da operação eram doleiros de suposto esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas que envolve executivos da Camargo Corrêa. A PF juntou as planilhas de pagamentos aos autos e aguarda agora uma orientação da Justiça.
Nomes que constam da lista desfrutam de prerrogativa de foro perante o Supremo Tribunal Federal (STF). Nesses casos, a corporação só pode investigar por ordem da Corte.
Os pagamentos teriam sido efetuados em dólares. Os três primeiros registros em nome de Temer são de 9 de outubro, 12 de novembro e 23 de dezembro de 1996 – nessas datas a empreiteira teria repassado total de US$ 50 mil, assim distribuídos: US$ 30 mil no primeiro lançamento, US$ 10 mil no segundo e outros US$ 10 mil no último.
Em 1997, na página 30 da planilha, foram realizadas oito anotações relativas a Temer. Na ocasião ele exercia pela primeira vez o cargo de presidente da Câmara.
Os registros começaram em 25 de março e se sucederam até 23 de dezembro. No primeiro destaque o valor é US$ 5 mil. Nos demais, US$ 10 mil por vez, chegando ao total de US$ 75 mil, ou R$ 86.375 – atualizada pelo Índice de Preços do Consumidor Amplo (IPCA) essa quantia vai a R$ 181.070,85.
Em 1998, os registros recolhidos pelos agentes federais começam em 16 de fevereiro e vão até 28 de dezembro, num total de dez apontamentos que somam US$ 220 mil. A parcela mais elevada foi a 25 de agosto, no valor de US$ 90 mil, ou R$ 226.168,51 atualizados.
Arquivo apócrifo
O total de pagamentos da Camargo Corrêa alcança R$ 382,6 milhões nos anos 1995, 1996, 1997 e 1998. Em 1995, foram liberados R$ 42,3 milhões, atualizados; em 1996, R$ 111,5 milhões; em 1997, R$ 86,2 milhões; em 1998, R$ 142,4 milhões.
A empresa informou que desconhece o documento. Por seus advogados, os criminalistas Márcio Thomaz Bastos, ex-ministro da Justiça, e Celso Villardi, a construtora alega que não teve acesso aos documentos que a PF encontrou na casa de seu executivo.
Villardi disse que o arquivo é apócrifo. Thomaz Bastos assinala que, no início da Castelo de Areia, foram divulgados nomes de políticos e partidos que teriam recebido dinheiro de caixa 2. “Depois ficou cabalmente esclarecido que todos os repasses foram rigorosamente declarados à Justiça Eleitoral”, afirmou o ex-ministro.