Citado pela defesa dos acusados de planejar e executar o assassinato da deputada alagoana Ceci Cunha e de três familiares em 16 de dezembro de 1998, crime conhecido como Chacina da Gruta, como alguém que teria motivos para querer a morte da parlamentar, o ex-governador alagoano Manoel Gomes de Barros chamou de “absurdo” e “desespero” o argumento.

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De acordo com depoimentos de acusados, entre eles o ex-deputado Talvane Albuquerque Neto, apontado pelo Ministério Público Federal como o mandante da chacina, Barros teria ficado irritado com Ceci por ela desistir de ser vice dele na chapa em que tentava a reeleição – perdeu para Ronaldo Lessa (PSB).

Além disso, o ex-governador teria emprestado R$ 2 milhões para a deputada, por conta da candidatura – e Ceci não teria devolvido o valor após a desistência.

“Essa história é tão absurda que não tenho como comentar, é desespero de um monstro diante de provas tão contundentes que vão dar a ele uma condenação enorme, talvez a maior da história de Alagoas”, afirma Barros, sem esconder a irritação com as suspeitas. “Esse depravado é capaz de qualquer coisa para tentar escapar. É uma tentativa desse louco de desviar o foco dele.”

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De acordo com o ex-governador, a desistência de Ceci da candidatura a vice-governadora foi orientada por ele. “Estávamos com problemas na chapa, com poucos nomes na bancada (com capacidade de atrair votos), por isso a orientei a voltar a ser candidata a deputada”, conta. “Não haveria motivo para eu ficar irritado.”

Sobre a alegação do empréstimo para Ceci, Barros também disse ser “absurda”. “Isso nunca existiu, é uma história da mente desse psicopata”, alega. “Se ele quer me acusar, que mostre provas. Ele teve 13 anos para isso e agora vem com essa história.”

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O ex-governador voltou a ser citado na apresentação dos argumentos finais da defesa de Talvane. “A pergunta que tem de ser feita é: por que nunca se falou do ex-governador Manoel de Barros ou de outros parlamentares na investigação?”, argumentou o advogado do ex-deputado, Welton Roberto.

Roberto também alegou que a defesa não apresentaria provas da participação de Barros ou de outros possíveis envolvidos no crime porque não há a intenção de incriminar outras pessoas. “Nosso papel não é apontar outros culpados, mas demonstrar que nossos clientes não cometeram o crime.”

Segundo a acusação, não se chegou a suspeitar de Barros. “Não há prova nenhuma nos autos que sequer indique a participação dele”, afirma o advogado da família das vítimas, José Fragoso.

Julgamento

O julgamento entrou na fase final hoje (sexta-feira), quando acusação e defesa tiveram três horas cada para expor os argumentos finais aos sete jurados que analisam o processo, além de duas horas cada para réplicas e tréplicas. A decisão dos jurados deve ser conhecida na madrugada de amanhã.

A acusação, representada pelo procurador federal Rodrigo Tenório e pelo advogado da família das vítimas, José Fragoso, optou por tentar demonstrar, por meio de ligações telefônicas gravadas e rastreadas, a presença dos acusados de executar o crime – Alécio César Alves Vasco, Jadielson Barbosa da Silva, José Alexandre dos Santos e Mendonça Medeiros da Silva – no cenário da chacina.

O rastreamento da localização das chamadas teria mostrado que os acusados seguiram a deputada desde a saída dela do fórum, onde recebeu a diplomação como deputada, no dia do crime, até a casa onde ocorreu a chacina. Além disso, depois do crime, os acusados teriam trocado outros telefonemas até o local onde foi incendiado um Fiat Uno usado na fuga dos atiradores. Toda a movimentação teria sido acompanhada, por telefone, pelo ex-deputado Talvane.

“É difícil reunir provas contra o autor intelectual de um crime, mas em 17 anos de trabalho não conheço processo que grite o nome do acusado como este”, argumentou Fragoso. “O processo grita o nome de Talvane Albuquerque.”

Já a defesa usou depoimentos colhidos nas fases iniciais da investigação e reportagens da época do crime para indicar que havia outros suspeitos de cometer a chacina – como o ex-governador -, mas que outras teses nunca foram levadas adiante pela polícia ou pelo Ministério Público.

“O processo sussurra vários nomes”, alegou o advogado de Talvane, Welton Roberto. “Houve uma armação para incriminar o deputado. “O processo está recheado de mentiras e dúvidas – e, na dúvida, os réus são absolvidos.”