O deputado federal Hidekazu Takayama(PMDB) negou ontem, com veemência, que tenha participado do esquema de fraudes na compra de ambulâncias com recursos do orçamento da União. O deputado paranaense integra a lista de oitenta e um parlamentares acusados de envolvimento na denúncia, que foi investigada pela Polícia Federal. Ele foi um dos deputados citados pela ex-assessora especial do Ministério da Saúde, Maria da Penha Lino, em depoimento à Polícia Federal.
Ela foi presa em Cuiabá, Mato Grosso, na operação Sanguessuga.
Takayama disse que a menção do seu nome pela ex-funcionária é uma retaliação pelo fato de ele ter se recusado a fazer acordo com os representantes da empresa Planam, que fornecia as ambulâncias às prefeituras. Segundo Takayama, das quinze emendas propondo a compra de ambulâncias que ele apresentou, em três anos e meio de mandato, apenas uma foi vendida por essa empresa a uma prefeitura paranaense, a do município de Nova Cantu, no final de 2003.
O deputado disse que somente ficou sabendo que a prefeitura havia adquirido a ambulância quatro meses depois da compra, quando o prefeito à época já havia deixado o cargo. "Uma única prefeitura comprou a ambulância dessa empresa em quinze emendas que apresentei é a maior prova da minha lisura. Eu nunca conversei com essa mulher e só posso imaginar que ela esteja fazendo isso porque eu não quis participar disso. Ela não merece crédito porque várias empresas deixam folders nos gabinetes. Como é que um deputado vai saber se a empresa presta ou é malandragem?", questionou o deputado peemedebista, que disse ter sido procurado pela Planam, assim como outros deputados. "Eles fizeram contato com a maioria dos deputados. Até o Dr.Rosinha contou que foi procurado", afirmou o peemedebista, referindo-se ao deputado federal Dr.Rosinha (PT).
A ex-assessora relacionou para a Polícia Federal nomes de deputados federais e de um senador – Ney Suassuna (PMDB-PB) – em troca do benefício da delação premiada, um mecanismo em que o réu consegue redução de pena em troca de informações. A Polícia Federal encaminhou a lista à Câmara dos Deputados. O deputado paranaense não integra a primeira leva dos investigados pela Câmara.
Líderes dos partidos na Câmara estão pedindo ao presidente da Casa, Aldo Rebelo (PcdoB), que devolva a lista completa à Polícia Federal, até que sejam realizadas investigações minuciosas, comprovando a culpa dos parlamentares.
Papel fácil
O deputado federal Dr.Rosinha (PT), que revelou ter sido procurado por representantes do esquema em 2003, disse ontem a O Estado que a primeira denúncia de existência da fraude foi feita em 2003, ao então ministro da Saúde Humberto Costa e envolvia prefeituras de Rondônia. O ex-ministro, segundo Rosinha, solicitou a ajuda do Controlador Geral da União, Valdir Pires, que iniciou apurações, mas chegou à conclusão de que somente a Polícia Federal teria os instrumentos necessários para comprovar as irregularidades, como por exemplo a quebra de sigilo telefônico.
Rosinha afirmou que foi procurado uma única vez pelos representantes da empresa e que, planejando gravar a conversa, marcou uma segunda reunião. Mas os emissários da empresa não compareceram ao encontro. Segundo Rosinha, o papel oferecido aos deputados era simples. Cabia ao parlamentar apresentar a emenda destinando recursos do orçamento para a compra de ambulâncias para um determinado município e depois avisar à prefeitura da cidade. "Segundo se sabe, a empresa fazia todo o resto, ajudando a prefeitura a organizar a licitação, a qual ela sempre ganhava, até providenciando seus concorrentes no processo", disse.
Delegado terá de explicar vazamento
Brasília (AE) – Na tentativa de enquadrar a Polícia Federal, a Corregedoria da Câmara marcou para terça-feira o depoimento do delegado Tardelli Boaventura, que preside os inquéritos que apuram o desvio de verbas do Orçamento da União por parte de parlamentares e servidores do Legislativo e a atuação de uma quadrilha na venda superfaturada de ambulâncias para prefeituras de todo o País. A Corregedoria pretende cobrar do delegado de Cuiabá o vazamento dos nomes, de pelo menos 80 deputados e do senador Ney Suassuna (PMDB-PB), como suspeitos de envolvimento no desvio de verbas do Orçamento da União para a compra de mil ambulâncias. De 2001 até agora, de acordo com a Polícia Federal, foram movimentados R$ 110 milhões para a compra de ambulâncias, dos quais pelos menos R$ 60 milhões teriam sido desviados.
Apesar do suposto envolvimento de mais de uma centena de parlamentares com as irregularidades – em princípio, falou-se em 170, mas a principal testemunha, Maria da Penha Lino, que fora infiltrada no gabinete do então ministro Saraiva Felipe desde agosto de 2005, não conseguiu se lembrar do nome de todo mundo – há um clima de revolta na Câmara por causa do vazamento dos nomes. Maria da Penha optou pelo programa da delação premiada. Disse que o dinheiro para o pagamento dos parlamentares entrava na Câmara em cuecas, meias e malas. Ontem, a comissão da Câmara dos Deputados que investigará a suposta participação de deputados no esquema de compra das ambulâncias superfaturadas começou a ouvir, em Cuiabá, os assessores que foram presos na semana passada pela Polícia Federal.
O líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna, que estava calado, manifestou-se anteontem a respeito das suspeitas que pesam sobre ele. Disse que está sendo "massacrado pela mídia". Ele adiantou que apresentará a defesa na próxima terça ou quarta-feira e disse que já intermediou a compra de várias ambulâncias para as regiões mais carentes da Paraíba, não só por meio de emendas, mas também com recursos próprios.
Dos 223 municípios da Paraíba, disse, somente dois têm hospitais e equipamentos suficientes para atender a população local. Por isso, os prefeitos pedem tantas ambulâncias. "No meu primeiro mandato, foram 82 ambulâncias do meu próprio bolso e no segundo, mais 29 por meio de emendas, até mesmo para atender a resolução que determina que 30% dos gastos do orçamento devem ser feitos na área da saúde", afirmou. O senador informou ainda que não sabe quem é Maria da Penha, a assessora do Ministério da Saúde que era funcionária da Planam, a empresa que, de acordo com a Polícia Federal, chefiava o esquema.