A Operação Fratelli – missão integrada da Polícia Federal e Ministério Público – revela que a organização criminosa montada para fraudar licitações de 78 prefeituras paulistas expandiu seu raio de ação ao Congresso em busca de recursos de emendas parlamentares.

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Escuta da PF flagrou contatos do suposto lobista do esquema, Osvaldo Ferreira Filho, o Osvaldinho, com integrantes do grupo. Eles citam emendas de quatro deputados paulistas, Cândido Vaccarezza, ex-líder do governo na Câmara e ex-tesoureiro do PT, Otoniel Lima (PRB), Aldo Rebelo (PC do B), atual ministro dos Esportes, e o pastor Marco Feliciano (PSC).

“Dá uns 4 milhões, mais ou menos”, diz Osvaldinho a um homem conhecido por Betão. “Anota aí, Marco Feliciano, um milhão, Otoniel, um milhão. Tem mais um deputado do PP, eu não lembro do nome. Dá 4 milhões.”

Osvaldinho foi assessor, entre 2002 e 2010, de Edson Aparecido, secretário-chefe da Casa Civil do governo Geraldo Alckmin (PSDB) – período em que Aparecido exerceu mandatos de deputado estadual e federal. Empresas do Grupo Scamatti, que o Ministério Público sustenta ser um “conglomerado de corruptores”, são doadoras de campanha do número 2 do governo tucano.

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Um grampo pega Olívio Scamatti – apontado como líder da quadrilha – informando a seu interlocutor que “os 585 mil do Aldo do Esporte já estão liberados”. Outra interceptação mostra negociação direta entre o empresário e uma servidora pública, Denise Cavalcanti, que trabalhava no gabinete de Vaccarezza. O teor desse diálogo, captado em 28 de maio de 2010, reforça a suspeita dos investigadores sobre o poder de infiltração da organização na Câmara.

Scamatti e Denise tratam de valores provavelmente relativos a uma emenda para o município de Mirassol. Denise liga para Scamatti e pergunta “se o valor do processo de Mirassol não foi readequado” – na época, ela era assessora de Vaccarezza. Denise diz ao empresário que, “para ter o valor acima”, no caso da prefeitura daquele município, “é preciso a interferência do Vaccarezza”.

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Diz que está com o deputado e que vai pedir a ele que “ligue para o ministro”, mas não menciona o nome da pasta. Comum. “Conheço o Olívio, encontrei com ele quatro ou cinco vezes”, disse Vaccarezza. “Conversei uma vez em Brasília. Ele me procurou diretamente falando de obras de uma prefeitura. Mas nunca me pediu nada. É comum empresários quererem apresentar as suas empresas. Isso não é um problema.”

Sobre emendas, o petista disse: “Minha relação foi sempre com prefeitos. (Olívio) queria me conhecer, conversar, eu era líder do governo. Mas nunca pediu ajuda para liberar obra. A Denise foi uma assessora que demiti mais ou menos em 2010 porque fiz uma reestruturação do meu gabinete. Eu não tinha conhecimento dessa conversa (Olívio com Denise). Perdi o contato com ela completamente. Não existe essa emenda (Mirassol).”

“Nunca conversei com ele (Olívio) ou com esse pessoal”, disse o deputado Otoniel. “Destinei R$ 1 milhão uma vez para Votuporanga, só que a emenda não foi empenhada. Acho estranho esse negócio de citar meu nome. Não trato nem com eles (empresários). Se tiver que falar, falo direto com a prefeitura.”

Por sua assessoria, Aldo Rebelo disse que não conhece Scamatti e que todas as emendas “são solicitadas por prefeitos”. “A execução orçamentária das emendas é de exclusiva responsabilidade das prefeituras.” Feliciano, também via assessoria, disse que não fala com lobistas e que suas emendas estão disponíveis no site da Câmara. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.