A Justiça suíça autorizou o Brasil a usar documentos e extratos bancários reunidos pelos procuradores em Berna para processar por improbidade administrativas os responsáveis por irregularidades em licitações públicas envolvendo o Metrô de São Paulo e a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). A decisão foi tomada pelo Tribunal Penal da Suíça em 11 de março, mas apenas agora foi tornada pública.

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O Tribunal Federal suíço autorizou ainda a utilização das informações para processos civis em curso no Brasil. Os dados se referem inclusive a contas de empresas controladas por Ademir Venâncio, ex-diretor da CPTM. Em 2013, o Ministério Público em São Paulo informou que o ex-diretor mantinha US$ 1,2 milhão em contas na Suíça, algo que ele negava.

A nova autorização de uso de documentos são considerados como fundamentais para que o Ministério Público Estadual (MPE) de São Paulo e o Ministério Público Federal (MPF) possam investigar atos de improbidade administrativa, e não apenas crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.

Documentos já enviados revelam como Arthur Teixeira, outro lobista suspeito de servir de elo entre a Alstom e funcionários públicos no Brasil, teria criado empresas offshore para camuflar os pagamentos.

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Mas ainda em agosto de 2015, recursos foram apresentados na Justiça suíça para impedir que os dados fossem usados em inquéritos, alegando que a cooperação não se justificaria. O tribunal considerou que as “autoridades brasileiras descreveram um mecanismo criminoso preciso” e com uma relação direta “aos documentos solicitados ao Ministério Público da Suíça”.

Ao elogiar o pedido brasileiro, os suíços indicam que eles não teriam “lacunas ou erros”. A única ressalva feita pelos suíços foi a proibição de que os dados enviados ao Brasil sejam usados para eventuais processos de crimes fiscais. Eles somente poderiam ser usados para denúncias de corrupção.

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Cartel

Esse não é o único caso envolvendo o governo paulista. Em março, o MPE denunciou à Justiça funcionários das empresas Alstom e CAF por formação de cartel em licitação para a estatal. “(Os denunciados) formaram conluios para evitar a efetiva concorrência, por consórcio, ou individualmente, mas sempre com divisões predeterminadas do objeto do contrato”, diz a denúncia, apontando que isso teria ocorrido a partir de 2009.

Já em 2013, investigações preliminares na Suíça indicaram que a Alstom teria destinado mais de US$ 20 milhões em propinas ao Brasil em outros projetos. Na época, a empresa negou qualquer envolvimento.

A apuração mostrava que informes internos da Alstom revelavam um esquema para ganhar contratos públicos no Brasil nos anos 1990. Para a Justiça de Berna, havia “evidências claras de suborno” e até uma “tabela oficial” de propina no Brasil. O dinheiro foi destinado a projetos de energia no Brasil. Entre os acusados de receber propina está o conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, Robson Marinho.

Na semana passada, ao revelar que os suíços haviam aprovado o envio de novos documentos ao Brasil, o governo paulista informou que aprova as iniciativas que esclareçam o cartel e punam os envolvidos, além de colaborar com o MPE “por ser o maior interessado” em esclarecer os fatos.