A Justiça Suíça aprovou o envio ao Brasil de extratos bancário relativos a Walter Faria, presidente do grupo Petrópolis, dono da fabricante de cerveja Itaipava. O empresário é investigado por supostamente atuar com a Odebrecht no financiamento ilegal de campanhas eleitorais no Brasil. Os documentos se referem a pelo menos duas contas e uma “sub-conta”, todas mantidas em bancos no país europeu. Com a informação, os procuradores brasileiros querem traçar a origem e o destino do dinheiro.

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O processo para envio dos documentos durou três anos. A defesa de Faria insistia que a transmissão dos extratos “não tinha qualquer utilidade, já que o processo penal pela qual as autoridades brasileiras tinham solicitado a cooperação judicial da Suíça já havia sido definitivamente julgado”.

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Num documento publicado na quarta-feira, 14, o Tribunal Federal da Suíça rejeitou o recurso do empresário brasileiro e, atendendo a um pedido de abril de 2015, autorizou que os dados sejam enviados ao MP no Paraná.

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Em 2017, em depoimento à Polícia Federal, Faria afirmou que usou o programa de repatriação estabelecido pela Receita Federal para regularizar a situação das contas. “Todas as contas foram objeto de repatriação junto à Receita Federal”, disse.

Em delações de ex-executivos da Odebrecht, o empresário é citado como uma das peças do esquema de financiamento ilegal de campanha. Em uma transação cruzada entre a construtora e a cervejaria, a Odebrecht depositaria valores em contas ligadas ou indicadas pelo Grupo Petrópolis no exterior e, em troca, receberia recursos em espécie para repassar a políticos. As investigações revelam que as operações superam R$ 120 milhões.

O ex-chefe do Setor de Operações Estruturadas, como era chamado o “departamento da propina” da Odebrecht, Hilberto Mascarenhas, afirmou em sua delação premiada que o esquema gerou, em espécie, R$ 105 milhões, em 2007 e 2008. O restante teria sido repassado através de doações oficiais.

Para conseguir gerar os recursos, de acordo com as investigações, parte da cerveja produzida pelo grupo não era contabilizada. “Eu soube, eles comentaram que era um desvio de quantidade, no medidor. Porque o imposto é gerado em função da quantidade de cerveja que passa em determinado medidor. Então eles criaram, parece, um by pass, para adulterar a quantidade de imposto”, afirmou o delator. “Essa venda dessa cerveja, que passava a latere (ao lado), era vendida, e o dinheiro gerado ia para o caixa 2. Esse caixa 2 era vendido para nós”, afirmou o delator.

“Segundo me foi dito por Vanuê (Faria, da Petrópolis), em visita à fábrica de Boituba, não me recordo o ano, a disponibilidade de gerar reais em caixa 2 da Itaipava vinha através de uma espécie de burla do medidor de produção de sua(s) fábrica(s), produzindo assim cerveja ‘fria’ sem pagar imposto que era vendida em pequenos bares sem nota, gerando disponibilidade desses recursos.”

O empresário Marcelo Odebrecht também confessou em sua delação que a partir de 2006 o grupo passou a ter relações ilícitas de parceria com o Grupo Petrópolis. A parceria rendeu dois momentos de práticas criminosas de fraudes, lavagem de dinheiro e atos contra o sistema financeiro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.