O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), obteve uma taxa de sucesso com investimentos no mercado que é mais improvável que ganhar na Mega Sena. A avaliação consta de documento protocolado no Supremo Tribunal Federal (STF) pela Procuradoria Geral da República (PGR), com base num inquérito da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). As informações estão em matéria publicada pelo jornal Folha de S.Paulo neste sábado.
Entre abril de 2004 e fevereiro de 2005, Cunha teria lucrado R$ 917 mil após acertar 100% em operações no mercado de dólares e 98% em apostas em outro papel. De acordo com o jornal, a PGR teria apontado que a probabilidade de se obter uma taxa de sucesso de 98% ocorre em uma vez a cada 257 septilhões (o número 257 seguido de 24 zeros). Em comparação, a Mega Sena confere à aposta mínima uma chance em 50 milhões.
Conforme a PGR, ao mesmo tempo em que Cunha ganhava com seus investimentos, o fundo de pensão Prece, de funcionários da Cedae, companhia de água do Rio, amargava prejuízos. A Prece operava sete fundos de investimento por meio de várias corretoras, entre elas a Laeta, que tinha Cunha como cliente, além do corretor Lúcio Bolonha Funaro.
Para a PGR, conforme a Folha de S.Paulo, a taxa de sucesso de Cunha e Funaro “somente se tornava viável mediante a manipulação na distribuição dos negócios fechados, pela fraude verificada, com conivência dos ‘perdedores’, ou seja, os fundos da Prece”. De acordo com a procuradoria, “todos os prejuízos ficavam para os fundos e todos os lucros para determinados clientes das corretoras, entre eles Cunha e Funaro.”
Em sua defesa na CVM, Cunha teria afirmado que seu desempenho na época decorreu de operar “com convicção”. O deputado não foi localizado pelo jornal na sexta-feira, dia 8, para comentar o assunto. Funaro, de acordo com a Folha, havia afirmado no ano passado, por meio de assessoria de imprensa, que a investigação da CVM “está sob sigilo e a defesa será apresentada no tempo oportuno”.