O teor das conversas reservadas entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o governador Roberto Requião (PMDB), mantidas durante três momentos da passagem do petista por Curitiba, não foi revelado oficialmente. Mas um diálogo sobre sucessão estadual, do presidente com o deputado estadual Natálio Stica (PT), um dos poucos petistas do Paraná a conversar com Lula, gerou constrangimentos internos.
Stica, que conversou com Lula no Hotel Bourbon, durante o café da manhã de ontem, disse que o presidente quis saber se o partido iria manter a posição de lançar um candidato próprio ao governo do Estado, e diante da resposta afirmativa, perguntou quem era o indicado.
Conforme Stica, ao saber que o pré-candidato do partido é o senador Flávio Arns, o presidente comentou que o paranaense está na metade do mandato e que se estivesse concluindo seus oito anos de Senado, dificilmente disputaria a eleição para o governo. "Com certeza, ele preferia a aliança com o Requião. Mas certamente, não vai interferir porque eu disse a ele que a posição da maioria do partido, até agora, é pela candidatura própria", afirmou o deputado.
O presidente estadual do PT, André Vargas, que não encontrou o presidente porque estava participando ontem, em Brasília, de um seminário sobre experiências de governos petistas, reagiu à versão de Stica sobre a conversa com o presidente da República, criticando o colega de bancada. "Isso é coisa de quinta coluna. Ele está conspirando contra a candidatura própria do PT. É coisa de puxa-saco do Requião. O Lula não apenas sabe que temos um candidato próprio, quem é ele, como apóia nossa posição", afirmou Vargas.
O dirigente petista contestou as declarações de Stica. Disse que o presidente da República somente conversa sobre assuntos eleitorais com o presidente do partido, Ricardo Berzoini. "Ele não ia comentar sobre o senador Flávio Arns com o Stica ou com o André Vargas. O nosso quadro é avaliado por ele com o presidente do partido. E o que o Berzoini me disse é que a candidatura do Paraná está classificada como consolidada", afirmou.
Sigilo
Os encontros reservados entre Requião e Lula foram mantidos em sigilo. Nos bastidores, entretanto, uma das poucas informações que vazaram foi que o governador cobrou do presidente da República o cumprimento da promessa de resolver o impasse dos títulos podres do Banestado, cobrados do Estado pelo banco Itaú. Em encontro anterior em Brasília, o presidente disse ao governador que iria encontrar uma solução técnica para retirar o Paraná do cadastro dos inadimplentes do Banco Central, que impede o estado de receber verbas federais. Até agora, entretanto, revelou um peemedebista, nada foi resolvido. "O Requião se preparou a semana inteira para cobrar isso do presidente", disse o peemedebista.
Requião, conforme informou sua assessoria, teve três conversas com Lula. Quando foi buscá-lo no aeroporto Affonso Pena, na noite de domingo e o acompanhou até o Hotel Bourbon, onde o presidente passou à noite. O governador voltou a conversar com Lula pouco antes e após a abertura da Conferência das Partes da Convenção Sobre Diversidade Biológica (COP-8), no Centro de Convenções Embratel. As conversas foram realizadas numa sala anexa ao auditório da solenidade.