A já precária relação entre as bancadas do PMDB e PT desandou ontem de vez, com a renúncia do deputado estadual Natálio Stica ao cargo de líder do governo na Assembléia Legislativa. O petista deixou o cargo acusando a bancada do PMDB de traição ao governo e ao PT e de ter negociado clandestinamente acordo com o PFL para a presidência das comissões permanentes da Casa, incluindo o reconhecimento da eleição de Durval Amaral (PFL) para a presidência da Comissão de Constituição e Justiça.
O deputado do PFL foi eleito anteontem pelos oitos deputados da oposição e do bloco independente na CCJ, atropelando um pré-acordo entre PMDB e PT que ainda estavam tentando se entender quanto à composição das comissões. Stica anunciou o afastamento do cargo no início da tarde, após comunicar sua decisão ao governador Roberto Requião (PMDB). O deputado petista disse que, enquanto o PT e a liderança do governo continuavam buscando uma fórmula para recuperar a presidência da CCJ para a base governista, parte da bancada do PMDB já havia feito um acerto com pefelistas e tucanos. Por esse arranjo, segundo os petistas, o PMDB aceitava entregar a presidência para Durval Amaral e garantia a indicação do presidente da Comissão de Orçamento, que também era reivindicada pelo PT.
Stica disse que o pacto entre PFL e PMDB foi firmado anteontem à noite pelos deputados Antônio Anibelli (líder da bancada do PMDB), Dobrandino da Silva (presidente estadual do PMDB), Alexandre Curi e Mário Bradock. Existe ainda uma suspeita não confirmada, de que o chefe da Casa Civil, Caíto Quintana, participou das articulações. Segundo Stica, nem ele e nem o líder do PT, Tadeu Veneri, tinham conhecimento das articulações pefelistas-peemedebistas, tendo os tucanos como observadores. "Enquanto nós tentávamos garantir a CCJ com a bancada de apoio ao governo, o PMDB traiu o PT. Mas pior do que trair ao PT é eles terem traído ao governador. Tudo tem limites", disse Stica.
Ele afirmou que não foi a primeira vez que deputados do PMDB desrespeitaram sua posição de líder. Stica disse ainda que vai continuar votando com o governo e que sua relação com o governador não será alterada. Ontem, no final da tarde, Stica foi conversar novamente com Requião, que tentava demovê-lo da decisão de sair da liderança. Na saída da Assembléia Legislativa, encontrou o líder do PMDB, Antônio Anibelli, que o interpelou. Mas o petista disse que sua decisão era irreversível.
Anibelli classificou como "mentira" a informação de que o PMDB costurou um acordo com o PFL ao anoitecer. Segundo o peemedebista, sua bancada desistiu de questionar a eleição de Durval Amaral depois que o presidente da Assembléia Legislativa, Hermas Brandão (PSDB), afirmou que não havia nenhuma irregularidade no processo. Amaral foi eleito numa sessão da qual apenas a oposição participou e que não foi instalada pelo 1.º vice-presidente da Assembléia, Pedro Ivo Ilkiv, como determina o regimento interno.
O líder da bancada do PMDB negou ainda que tivesse se reunido com o PFL à revelia da bancada do PT. "Eu só conversei com o Hermas Brandão. E ele disse que iria reconhecer a eleição do Durval. Se eu fosse mau caráter, teria eleito o Bradock como presidente da CCJ. Mas eu não traio e também não me vendo", reagiu.
Houve quebra de confiança política
A bancada do PT divulgou ontem uma nota de apoio ao deputado Natálio Stica pela decisão de sair da liderança do governo. Na nota, os deputados do PT denunciaram a existência de um acordo feito "à noite" entre o PMDB e o PFL. "Infelizmente, parte da bancada do PMDB rompeu unilateralmente, traindo o que havia sido acordado previamente entre as lideranças do PMDB e do PT não só com relação à CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), mas também com relação às demais comissões permanentes da Casa", diz a nota assinada pelo líder da bancada do PT, Tadeu Veneri.
A saída de Stica e em seguida, a distribuição da nota oficial, é vista como parte do processo de rompimento entre o PT e o governo, que está em curso. "Houve a quebra de uma relação política de confiança. O PT foi ético desde o início das negociações. Não vejo outro termo, que não traição, para definir a posição de parte da bancada do PMDB. É claro que isso muda a relação com o partido", disse Veneri.
O presidente estadual do PT, André Vargas, que apregoa a independência da bancada do seu partido em relação ao Palácio Iguaçu, disse que a postura da bancada peemedebista fortalece essa tese no partido e que a iniciativa do rompimento está partindo do PMDB. "Esse não foi o comportamento de um aliado", afirmou Vargas.
O dirigente petista sugeriu que o Palácio Iguaçu tinha conhecimento dos movimentos da bancada do PMDB em direção ao PFL. "Não acredito que aconteça algo na Assembléia Legislativa à revelia do Palácio Iguaçu. Ou então, foi uma rebelião do PMDB em relação ao governador?", ironizou Vargas.
No final das contas, o PT acabou ficando sem as presidências das comissões de Constituição e Justiça e de Orçamento. Conseguiu emplacar apenas o comando da Comissão de Obras Públicas (André Vargas) e de Agricultura (Luciana Rafagnin).
O Palácio Iguaçu não se manifestou oficialmente sobre a crise na base aliada. Segundo a assessoria do governador Roberto Requião, ele não irá interferir nos problemas da Assembléia Legislativa. (Elizabete Castro)