Atual secretário de Administração e da Previdência do governo Roberto Requião (PMDB), o ex-presidente do Banestado Reinhold Stephanes distribuiu nota oficial ontem para desvincular seu nome das denúncias de lavagem de dinheiro de corrupção, narcotráfico e contrabando na agência do Banestado de Nova York Stephanes disse que dirigiu o banco de janeiro de 1999 a outubro de 2000 e que as irregularidades investigadas pela Polícia Federal referem-se ao período entre 96 e 97.
Stephanes, último presidente antes da venda do Banestado para o Itaú, afirmou que, quando assumiu o cargo, o processo de fechamento da agência em Nova York já estava em andamento. De acordo com ele, a agência foi desativada em 31 de março de 1999.
O secretário disse ainda que apressou o processo de fechamento da agência. E que, ao assumir o comando do banco, o Ministério Público e o Banco Central já estavam investigando denúncias de lavagem de dinheiro por meio das chamadas contas CC5 – operações de transferências de recursos para brasileiros residentes no exterior. “Quando assumi, após análises, determinei o encerramento das operações com as contas CC5 na agência de Foz do Iguaçu e instruí os gerentes da rede Banestado para estarem atentos a operações suspeitas. Nesse momento, determinei a implementação do que então eram as recentes normas que o BC estava baixando para regulamentar a lei de combate à lavagem de dinheiro, colaborando para evitar novos riscos de operações com dinheiro de sonegação, narcotráfico e contrabando pelo banco”, justificou.
Stephanes disse ainda, na nota, que o Banco Central acompanhou todo o processo de saneamento do Banestado que precedeu à privatização. Segundo o ex-presidente, um grupo de auditores do BC monitorou decisões e medidas internas adotadas pelo Banestado nesse período. “As contas CC5 estavam dentro da legislação e as operações envolvendo o exterior eram informadas ao BC diariamente”, disse o secretário.
Sem controle
O ex-presidente do Banestado explicou, sem detalhes, a multa de US$ 250 mil aplicada pelas autoridades financeiras norte-americanas à agência do Banestado de Nova York. De acordo com Stephanes, a multa se referia a operações realizadas entre 1996 e 1997 e foi motivada pela falta de controle interno na agência. “Não tinha qualquer relação com a lavagem de dinheiro”, declarou.
Stephanes explicou que as autoridades financeiras norte-americanas avisaram que a agência somente poderia ser fechada após o pagamento da multa. “Coube ao advogado contratado em Nova York para tratar dos seus interesses nos Estados Unidos negociar o valor dessa multa. A multa se relacionava à falta de controles internos de uma forma genérica e uma eventual abertura de processo para contestá-la poderia levar de meses a anos para acontecer”, afirmou o ex-presidente do banco.
Stephanes disse que o advogado do banco e o liquidante da agência negociaram a redução do valor da multa para US$ 75 mil. Stephanes garantiu que informou ao Banco Central sobre a multa, e que decidiu pagá-la para poder fechar a agência do Banestado em Nova York, evitando atrasos no cronograma de saneamento para a privatização do banco.
Programa era desenvolvido em Curitiba
Apenas três doleiros brasileiros movimentaram US$ 1,7 bilhão em contas abertas em nome de empresas “offshore” (com sede virtual em paraísos fiscais). A informação consta em laudo da perícia feita pela Polícia Federal nas contas da agência do Banestado em Nova York (EUA). Através de senhas e de um programa desenvolvido pela Divisão de Informática da direção geral do Banestado em Curitiba, os doleiros conseguiram, do Brasil, receber e remeter o equivalente, hoje, a R$ 6,1 bilhões para contas abertas em outros países, incluindo paraísos fiscais, ao alcance dos verdadeiros donos do dinheiro.
Esse valor corresponde a apenas 21 meses de movimentação no Banestado, entre abril de 1996 e dezembro de 1997. Ao todo, cerca de US$ 14,9 bilhões teriam sido movimentados na agência no mesmo período. A polícia e o Ministério Público suspeitam que a maior parte desse dinheiro se origine de atividades ilícitas, como corrupção, contrabando e narcotráfico.
Doleiros
Segundo o estudo da polícia, três doleiros tinham atuação direta ou indireta em pelo menos oito contas bancárias: Alberto Youssef, que atua no Paraná, mais especificamente em Londrina, e em São Paulo, Sílvio Roberto Anspach, que vive em Miami (EUA), e Alexander Diógenes Ferreira Gomes, o “Alex”, de Fortaleza (CE). O laudo analisa 137 contas que tiveram maior movimentação na agência nova-iorquina do extinto banco estatal, alimentadas por milhares de remessas do Brasil feitas por contas CC5 (para não residentes).
Eles atuaram como procuradores em pelo menos cinco empresas “offshore” que tinham contas na agência nova-iorquina do banco, três delas sediadas nas Ilhas Virgens Britânicas e outras duas sediadas no Uruguai, ambos paraísos fiscais.
Youssef era procurador das empresas June International Corporation, que movimentou US$ 662 milhões, e da Ranby International Corporation (US$ 139,9 milhões). Já investigado pela polícia por suposta evasão de divisas, Youssef também tem vínculos, segundo o laudo, com duas contas de pessoas físicas: a de Elias Kalil Youssef, seu irmão, que movimentou US$ 53,4 milhões, e a de sua cunhada, Maria Luzia Bazzo (US$ 21,5 milhões).
Conexôes
Sílvio Anspach aparece como procurador da empresa Courchevel Investments, com sede também nas Ilhas Virgens Britânicas, que movimentou US$ 238,2 milhões. Além disso, é relacionado pela polícia à “offshore” Drake Import Export (Ilhas Virgens Britânicas), que movimentou US$ 37,4 milhões, segundo o laudo.
O procurador que aparece nos papéis de abertura da conta é o paraguaio Elvio Cesar Gonzalvez. No entanto, a polícia encontrou junto com os documentos um fax enviado por Sílvio Anspach de Miami, onde mantém a empresa South Exchange, para o então gerente da agência do Banestado, Ércio Santos. A polícia suspeita que Gonzalvez não passa de um laranja do esquema.