Durou mais de oito horas o depoimento prestado ontem pela ex-assessora financeira do PT de Londrina, Soraya Garcia, à Polícia Federal (PF). Soraya detalhou o que já havia denunciado na semana passada: a existência de caixa 2 na campanha de reeleição do atual prefeito de Londrina, Nedson Micheleti, porém agora fornecendo novos nomes de pessoas envolvidas no esquema.
Soraya informou à PF que a chegada do dinheiro do caixa 2 coincidia sempre com a ida de André Vargas e Paulo Bernardo a Londrina. Ela disse também que depois da visita do então ministro José Dirceu a Londrina, em 18 de setembro do ano passado, chegou às suas mãos muito dinheiro em envelopes com o timbre do Banco do Brasil. Tudo em notas novas de R$ 100. Depois disso, também começaram a surgir depósitos generosos de "doadores" nas contas da campanha. "Não sei de onde vinha este dinheiro, só sei que ele chegava. O caixa 2 caiu no meu colo e agora eu sou a faxineira do PT em Londrina. Estou lavando toda a lama", disse.
Rumores de que o chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, teria enviado dinheiro que abasteceu o suposto caixa 2 da campanha eleitoral foram negados por Soraya. "A única coisa que eu disse foi que as festas do PT aconteciam no Buffet Carvalho, aqui de Londrina, que é da filha do Gilberto Carvalho. Eu não sei de onde vinha esse dinheiro", afirmou.
De acordo com o delegado da PF, Sandro Roberto Viana dos Santos, Soraya citou mais de 50 pessoas que estariam ligadas ao esquema. "Todo o depoimento foi gravado. São 8 fitas que contêm uma riqueza de detalhes que agora iremos analisar e apurar", disse.
De acordo com Santos, Soraya não caiu em contradição em nenhum momento. O delegado disse ainda que os nomes citados por ela envolvem toda a cúpula do PT do Paraná e de Londrina com o esquema de caixa 2. Augusto Dias Júnior, coordenador financeiro da campanha de reeleição do prefeito de Londrina e chefe imediato de Soraya, deve ser convocado ainda esta semana pela PF para prestar esclarecimentos. Soraya disse que ele pode confirmar tudo o que ela disse. "O Jaks (Jaks Dias, presidente do PT de Londrina) mandava, o Augusto executava e me mandava executar. Nós dois éramos dois paus mandados. Agora se ele vai falar ou não, isso depende da consciência dele", disse.
Das cerca de 50 pessoas citadas por Soraya na PF, pelo menos 16 estavam diretamente ligadas ao prefeito de Londrina. Quando questionada se o prefeito sabia da existência do caixa 2, Soraya disse que sempre preparava 2 planilhas: uma escrita em azul, a oficial, e uma em vermelho, descrevendo o destino do dinheiro do caixa 2. As duas planilhas eram levadas para a análise do prefeito.
Soraya trabalhou no PT de Londrina de março de 2004 a 14 de fevereiro de 2005. Segundo ela, o PT gastou R$ 6,5 milhões para reeleger Micheleti, enquanto a prestação de contas do partido registra apenas R$ 1,3 milhão.
Ela disse que saiu do partido disposta a colocar os antigos patrões na justiça, por nunca a terem registrado. Depois de tentativas frustradas de conseguir outro emprego, Soraya conta que foi ameaçada pelo irmão do prefeito, Nilton Micheleti, que disse para ela que seria mais fácil "apagá-la" do que apagar um disquete.
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