O procurador do Ministério Público Federal Carlos Alberto Gomes de Aguiar disse que o poder público está reagindo à corrupção, mas que “a sociedade agora também tem que reagir”. A declaração foi dada durante coletiva na Polícia Federal, nesta terça-feira, 14, sobre a operação Cadeia Velha, deflagrada para investigar os deputados estaduais Jorge Picciani (PMDB), Paulo Melo (PMDB) e Edson Albertassi (PMDB) e outras dez pessoas por corrupção e outros crimes envolvendo a Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). A ação é desdobramento da Lava Jato.

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“Nós fizemos a nossa parte, agora a sociedade que vá para a frente da Alerj, que cobre dos parlamentares uma postura. Estamos trazendo elementos de prova, elementos concretos, que mostram a verossimilhança do que a gente está contando. Agora, a sociedade também precisa reagir, ficar vigilante e dizer o tipo de política que ela quer”, afirmou o procurador. Para o MPF, a Alerj “talvez não tenha condições necessárias para fazer julgamento” desses políticos.

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Aguiar também comentou o fato de está para ser votada entre os deputados da Alerj a vaga do novo conselheiro do Tribunal de Contas, que está sendo disputada por Albertassi. Isso aconteceu depois que três conselheiros substitutos de carreira técnica renunciaram a vaga fixa. O órgão é conhecido por abrigar políticos da Alerj, graças à indicações. A operação do MPF Quinto do Ouro afastou quase todos os conselheiros do órgão por suspeita de corrupção.

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“Claro que nos causa espécie três servidores de carreira abrirem mão desta vaga. E temos a nossa investigação que coincidiu com este momento. É bom para os outros deputados vejam quem são os deputados que estão concorrendo a esta vaga”, afirmou. Ele lembrou que a rejeição das contas do governo de 2016 foi feita por conselheiros não titulares do TCE.

Cabral

O Ministério Público Federal do Rio (MPF-RJ) afirma que Jorge Picciani e Paulo Melo, ambos do PMDB, receberam mais de R$ 112 milhões em propinas num período de cinco anos. Picciani é o atual presidente da Alerj e Melo é ex-presidente da casa.

Segundo o MPF, documentos levantados ao longo dos últimos seis meses provam que havia “uma divisão de poder na organização criminosa”, que não se limitava ao Poder Executivo.

“Essa investigação é um desdobramento da Operação Ponto Final, em que se identificou todo o esquema de corrupção na Fetranspor ao Executivo. Só que junto com a entrega das planilhas de corrupção do Executivo, essas planilhas também trouxeram a corrupção dos deputados estaduais Paulo Melo e Jorge Picciani”, explicou a procuradora Andréa Bayão Pereira Freire.

Segundo ela, a propina paga pelos empresários ligados ao transporte público no Estado era dividida. “Havia um compartilhamento, um proveito criminoso, de Sergio Cabral (ex-governador, já preso) com Jorge Picciani e Paulo Melo. Cabral tinha uma conta na Fetranspor de propina, como já está dissecado na Operação Ponto Final, e havia determinações de saída de recursos dessa conta para conta de Paulo Melo e Jorge Picciani”, narrou Andréa.

Os pagamentos era mensais, de forma a existir um maior controle sobre as ações dos deputados. “Essas planilhas dizem para nós que no período de 15 de julho de 2010 a 14 de julho de 2015, foi pago da conta da Fetranspor para Picciani R$ 58,58 milhões, e para Paulo Melo foi pago R$ 54,3 milhões. Desse dinheiro, parte foi pago a mando de Cabral”, afirmou a procuradora. “Havia um projeto de poder de enriquecimento ilícito por muitos integrantes do PMDB do Rio.”