O recuo do governo na revisão da taxa de retorno das concessões rodoviárias, de 5,5% para 7,2%, não foi suficiente para convencer a iniciativa privada da atratividade do negócio. Alguns esperavam um aumento maior, para 10%. Outros ainda querem fazer as contas e avaliar as condições do edital e as premissas de financiamento para saber se o projeto fica ou não de pé. “De qualquer forma foi um primeiro passo. Mas só a taxa de retorno não define a atratividade de um projeto”, afirmou o executivo de um grande grupo investidor.
A concessão dos 7.500 quilômetros de rodovias que vão a leilão, possivelmente no segundo semestre, é considerada arriscada do ponto de vista de execução das obras de recuperação e duplicação. São trechos longos, que exigem uma mobilização grande de pessoal por toda a extensão. Além disso, o cenário de inflação elevada e juros com viés de alta (a Selic está em 7,5% ao ano) exige ainda mais cuidado do investidor, afirma o presidente da Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas (Apeop), Luciano Amadio, que esperava uma taxa de 10%.
Com o acúmulo dos investimentos nos primeiros cinco anos de concessão, há um temor de que possa haver pressão inflacionária sobre os principais insumos, como concreto, asfalto e cimento. Mudanças nesses custos podem comprometer todo o plano de negócio e afetar a rentabilidade do empreendimento.
A CCR, um dos maiores grupos de concessões rodoviárias do País, inclui na lista de riscos que podem melhorar ou piorar a atratividade das concessões outras variáveis, como valor do investimento, custo operacional, previsão de tráfego e demanda, regra de licitação e as condições da minuta do contrato de concessão. Para ela, esses fatores contam tanto na viabilidade do negócio como a taxa de retorno.
Na avaliação da empresa, os 7,2% anunciados pelo ministro da Fazenda Guido Mantega, ontem, ficou aquém da taxa ideal, que refletiria todos os tipos de riscos inerentes do negócio. Nos cálculos do presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada, (Sinicon), Rodolpho Tourinho Neto, a taxa de retorno também deveria ser um pouco maior: em torno de 8%.
O executivo participou do encontro desta quarta-feira, que contou com a presença do ministro da Fazenda, Guido Mantega, do secretário do Tesouro, Arno Augustin, e das seis maiores empresas concessionárias do País. “No nosso entendimento, a taxa antiga não cobria os riscos das operações”, afirmou ele, para quem os debates promovidos com o governo sobre o reajuste da taxa foram “proveitosos”. O banco de investimentos Credit Suisse também entendeu que o aumento da taxa de retorno das concessões rodoviárias mostra que o governo federal mudou sua mentalidade sobre participação do setor privado nos investimentos em infraestrutura.
Mas, como CCR e outros investidores, alerta para a necessidade de avançar em outros pontos importantes. Para o banco, a exigência de fazer a maior parte dos investimentos nos primeiros cinco anos de concessão tem sido o maior receio do setor privado. A regra estabelecida pelo governo na época do anúncio do pacote logístico é uma tentativa de evitar atrasos como os que ocorreram com as últimas concessões feitas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.