Integrante da coordenação da campanha da ex-senadora Marina Silva à Presidência, o deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ) conta, em livro sobre os bastidores da eleição, detalhes de uma “reunião secreta” entre dirigentes do PV e os tucanos Fernando Henrique Cardoso e José Serra, então governador de São Paulo. O encontro ocorreu em fevereiro de 2010, quando o PSDB tentava montar uma chapa com Marina vice de Serra. O livro “O efeito Marina” (editora Nova Fronteira, 276 páginas, R$ 39,90) será lançado na próxima segunda-feira, no Rio de Janeiro.
Segundo o autor, a reunião tratou apenas da aliança entre PV e PSDB no Rio de Janeiro, em torno da candidatura do deputado verde Fernando Gabeira para o governo do Estado. Sirkis revela os cuidados de Serra com um possível grampo em seu telefone. Verdes e tucanos se reuniram na casa do ex-presidente Fernando Henrique, em Higienópolis, na capital paulista.
“Serra chegou à reunião muito desconfiado. Deixou seu celular em outro quarto, alegando que havia `grampos’ capazes de monitorar conversas até por aparelhos desligados. Começou a discussão comigo meio tenso, mas depois relaxou e, com a ajuda da contagiante simpatia do ex-presidente, virou uma conversa agradável”, escreve Sirkis.
No final, diz o deputado, Serra, “já muito amável”, convidou-o para jantar no Palácio dos Bandeirantes. “Não falamos mais sobre a campanha eleitoral, mas sobre questões de gestão pública e lembranças dos tempos da ditadura e do exílio. Fiquei com uma dimensão mais humana dele”, diz Sirkis sobre Serra.
Em vários trechos, Sirkis reclama das especulações da imprensa sobre a possível chapa Serra-Marina, no início de 2010, e também das apostas no fracasso da campanha da ex-petista. O deputado verde conta que, dias depois da reunião com os paulistas, esteve com o outro tucano, o então governador de Minas Gerais Aécio Neves, que tentou, em vão, convencê-lo de que o PV não deveria ter candidato próprio no Estado. “Foi elegante na argumentação. Expliquei que Marina precisava de um candidato a governador em Minas para apoiá-la”, conta Sirkis.
Outro interlocutor citado por Sirkis foi o assessor especial para assuntos internacionais do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o petista Marco Aurélio Garcia. Segundo o deputado, em conversa durante o segundo turno, “Marco Aurélio Garcia reconheceu que a declaração de Lula sobre a greve de fome dos presos políticos cubanos fora um erro. Atribuiu-a ao estilo bem informal do nosso presidente”.
Em março de 2010, Lula criticou o protesto dos opositores do regime cubano. “A greve de fome não pode ser um pretexto de direitos humanos para liberar as pessoas. Imagine se todos os bandidos presos em São Paulo entrarem em greve de fome e pedirem liberdade”, afirmou o presidente. Depois da derrota no primeiro turno, os verdes conversaram com emissários de José Serra e Dilma Rousseff, mas Marina optou pela neutralidade.
Choro
Sirkis relata uma reunião do PV para tratar do segundo turno em que a ex-senadora, chorando, mudou o rumo da discussão e pediu desculpas aos companheiros pelo mau desempenho no debate da TV Bandeirantes. “Ela nos contou, em lágrimas, que ao chegar ao palco da Band e olhar para Dilma e Serra, viu neles não os adversários com os quais deveria se digladiar, mas dois seres humanos. Dilma, com quem, apesar das versões em contrário, tivera uma relação próxima e bons momentos (…) Olhou também para Serra, `com aquelas olheiras profundas’, e viu nele o homem que há tantos anos lutava e trabalhava para melhorar as coisas”, escreve Sirkis.
No prefácio, a própria Marina cita “momentos surpreendentes” do livro, como a “incredulidade” inicial de Sirkis acerca da filiação da senadora petista e ex-ministra do Meio Ambiente ao PV. Para o deputado, era uma “tábua de salvação” para o partido. No livro, Sirkis reproduz e comenta notas que fez entre julho de 2099 e novembro de 2010.