Severino: "Sou contra a |
O deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) disse ontem em Curitiba que irá ganhar a eleição para a presidência da Câmara Federal, marcada para o próximo dia 14, já no primeiro turno. Cavalcanti exibiu um levantamento que teria sido concluído na sexta-feira, dia 4, mostrando que faltam 38 votos para alcançar a maioria absoluta, e derrotar o segundo colocado, Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), o candidato oficial do Palácio do Planalto, que aparece com 147 votos.
Na pesquisa do deputado pernambucano, o candidato alternativo, Virgílio Guimarães (PT-MG), está com 61 votos, e o deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA) detém 26 votos. De acordo com o placar de Cavalcanti, 57 deputados ainda estão indecisos. O levantamento não mostra o desempenho do deputado petebista Jair Bolsonaro (PTB-RJ). Cavalcanti veio a Curitiba participar das comemorações dos 40 anos de missão evangélica do deputado federal paranaense pastor Hidekazu Takayama (PMDB).
Controverso em suas propostas – ele defende a equiparação salarial dos deputados aos dos ministros do Supremo Tribunal Federal – Severino Cavalcanti se apresenta como o candidato independente do Legislativo, contra o jugo do Executivo. Diz que as duas candidaturas petistas são subservientes ao governo e fazem parte de uma bem armada estratégia governista para impedir sua eleição. "Os dois (Greenhalgh e Virgílio) brigam de tarde e à noite vão ao Palácio do Planalto discutir como é que vão derrotar o deputado Severino. O Virgílio Guimarães já disse numa entrevista que era amigo do Lula e faz tudo o que ele manda", atacou.
Para Cavalcanti, o atual governo está usurpando as funções do Legislativo com a edição desenfreada de medidas provisórias. Situação que, segundo o deputado do PP, será mantida com a eleição de um dos petistas. "Quero acabar com essa farra da medida provisória. Quem tem que legislar é o Legislativo e não o Executivo", atacou.
Porta-voz
Os vínculos de Greenhalgh com o MST – o deputado paulista é advogado e atuou como defensor de trabalhadores sem terra em alguns processos decorrentes de ocupação de áreas – são bombardeados pelo deputado do PP. Segundo Cavalcanti, Greenhalgh protege "criminosos e assassinos que invadem fazendas" e sua vitória corresponderia a eleger o MST para presidir a Câmara. "Eu sou candidato por causa dele (Greenhalgh). Ele é o mais pesado. Ele vai tornar a Câmara do MST. O MST é a corporificação dele", disse.
Outra crítica de Cavalcanti diz respeito às posições dos dois deputados petistas sobre a união civil entre homossexuais. "Sou contra a proliferação de homossexuais. Sou contra essa história de homem com homem e mulher com mulher", comentou. Tanto Greenhalgh como Virgílio são classificados ainda pelo candidato do PP como dois estranhos na Câmara Federal. "O Greenhalgh não conhece ninguém. Ele vive perguntando os nomes dos depuatdos. Eles não têm afeto com os deputados. E isso não se constrói do dia para a noite", declarou.
Cavalcanti está no seu terceiro mandato. Em todos eles, integrou a mesa executiva da Câmara. Ocupou a 2.ª secretaria na gestão do deputado João Paulo (PT-SP), da qual se licenciou para concorrer à presidência.
"Já pensou o Lupion com o PT?"
Na bancada federal do Paraná, Severino Cavalcanti ainda não sabe quantos dos trinta votos serão dados em favor de sua candidatura. Mas está atento, principalmente, à posição do PFL e do seu presidente estadual, deputado federal Abelardo Lupion. "Já pensou o Lupion de braços dados com o PT? Pelo passado que ele tem, não pode votar em nenhum dos dois (os deputados Luiz Eduardo Greenhalgh e Virgílio Guimarães). O Paraná vai ficar de luto se souber que ele vai votar no PT", provocou.
Cavalcanti disse que o Palácio do Planalto está fazendo inúmeros acordos para garantir a eleição de Greenhalgh e que um deles seria com a bancada ruralista, da qual Lupion faz parte. Conforme o deputado do PP, alguns projetos em que governo e ruralistas têm divergências seriam alterados pelo Executivo para angariar os votos dos deputados da bancada. "O governo sempre quis esmagar os ruralistas, mas agora quer ganhar a eleição e eles são uma bancada forte. Tem mais de cem deputados. O Lupion tem altivez. Não vai entrar nesta jogada", comentou.
No PP do Paraná, Cavalcanti contabiliza dois votos certos – os dos deputados Nelson Meurer e Dilceu Sperafico. José Janene está na coordenação da chapa de Greenhalgh, mas Cavalcanti acha que assim mesmo terá o voto do correligionário. "Ele nunca mentiu, mas agora sei que está mentindo. Eu o perdôo. O voto é secreto e eu sei que o dele será meu", disse.
O deputado André Zacharow teria prometido o voto a Cavalcanti, mas o deputado pernambucano está suspeitando que o paranaense já mudou de lado. "Ele disse que votava em mim, mas fez festa para o Greenhalgh, quando veio a Curitiba." Quanto a Ricardo Barros, Cavalcanti não sabe dizer como votará. "Este só pensa nele. É daqueles que resolve os problemas de acordo com suas próprias conveniências", atacou. (EC)
Uma disputa acirrada
A disputa pela presidência da Câmara dos Deputados é a mais acirrada dos últimos anos. São cinco candidatos que anunciaram interesse em comandar a maior das casas que compõem o Congresso Nacional: o deputado oficial do PT, Luiz Eduardo Greenhalg (SP), o deputado dissidente do PT, Virgílio Guimarães (MG), Severino Cavalcante (PP-PE), José Carlos Aleluia (PFL-BA) e Jair Bolsonaro (PTB-RJ). O regimento da Câmara prevê que até o dia 14, quando será realizada a eleição, qualquer outro interessado poderá entrar na disputa.
Como o número de candidatos é elevado e se prevê uma fragmentação de votos, cresce a possibilidade da realização de segundo turno. Dos candidatos envolvidos na disputa, três já estiveram em Curitiba, em busca de votos: o primeiro foi Greenhalg, depois veio Virgílio Guimarães e ontem foi a vez de Severino, considerado um azarão perigoso porque dirige seu discurso para uma ala da Câmara praticamente ignorada: o chamado baixo clero, formado basicamente por deputados inexpressivos, que não transitam nas cúpulas e sempre vão a reboque nas grandes decisões. É para este eleitorado que Severino se dirige quando fala em aumentar os rendimentos dos deputados e brada contra minorias, como a dos homossexuais ou segmentos sociais marginalizados como os sem terra.