“O Brasil tinha condições para sofrer impacto muito menor em relação à crise do que sofreu. E sofreu por causa da política monetária absolutamente errada que se desenvolveu ao longo deste período”, afirmou o governador de São Paulo, José Serra, em palestra em Nova York. De acordo com o tucano, a política de juros, “em vez de colocar diques, barreiras à crise, colocou ventiladores”.
Em evento em tributo à ex-primeira-dama Ruth Cardoso, o pré-candidato do PSDB adotou tom de campanha disparando críticas contra a administração federal atual, fazendo até mesmo com que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso se manifestasse em favor de seu sucessor na Presidência, mesmo que a defesa não fosse durar mais que alguns minutos. “Uma palavra na defesa do presidente Lula”, disse FHC, depois da resposta dada pelo governador de São Paulo sobre a política anticíclica da administração Lula. Serra destacou que “o governo federal tem já há alguns anos, e agora também, enfatizado não aumento dos investimentos, mas o aumento dos gastos correntes. Há uma explosão de gastos correntes para agora e a maior parte para o próximo governo. Está fazendo uma política anticíclica com o dinheiro do próximo governo”, disparou o tucano.
FHC pediu a palavra depois da fala do governador de São Paulo a título de defesa, como havia mencionado, para ilustrar os motivos que alimentam as taxas de aprovação do governo Lula. “É fato que, nos últimos anos, a taxa de crescimento foi incomparavelmente mais alta do que no meu período (mandato)”, reconheceu. De acordo com o ex-presidente, há “razões muito objetivas” na explicação relacionada à popularidade do governo atual. E então, FHC alfinetou: “Além disso, o presidente Lula é muito bom em campanha, e, desde que foi eleito, continua fazendo campanha”, afirmou, arrancando risadas da plateia composta majoritariamente por acadêmicos. “Não estou criticando, estou apenas justificando. Ele é capaz de falar de forma muito clara e mesmo quando ele explica em (termos) errados é bem recebido”, continuou.
Para o governador, o impacto da crise poderia ter sido diferente, ou seja, menor do que ocorre atualmente. Em primeiro lugar, enumerou Serra, “é uma economia fechada, com coeficiente de exportação como participação no PIB em 12% ou 13%. (O coeficiente) da China é 40%. Uma economia fechada tem um impacto menor com relação à crise. Não estou discutindo se isso é bom ou não”, ressalvou. Ainda, continuou Serra sobre o momento em que a crise internacional estourou, o País “tinha a moeda mega, hiper, supervalorizada. (Havia) pouca desvalorização, sem inflação por causa da deflação internacional. Tinha bancos públicos….”, ponderou. “No meio de uma crise isso é um fator de maior estabilidade. Enfim, tinha várias condições para sofrer um impacto menor do que sofreu”.
Em entrevista para jornalistas depois da apresentação, ao avaliar o impacto da crise o governador disse que a trajetória do crescimento econômico é “um assunto que me preocupa muito, porque tem a ver com emprego e com arrecadação de impostos, o que é muito importante para o Estado, para manter investimentos em infraestrutura e na área social. Eu torço para que o desempenho seja o melhor possível, mas eu creio que neste ano a semiestagnação já está dada”.
Serra ficou irritado ao ser questionado se o Brasil, diante do quadro traçado por ele na apresentação, teria realmente condições de colocar recursos à disposição do Fundo Monetário Internacional (FMI). A pergunta, avaliou, “não era do interesse geral” no seminário.
Durante a apresentação, o governador dedicou-se ainda a rebater as críticas que acusam a “administração Cardoso” de ter tido “medidas sociais pobres”. Na administração do PSDB, observou que as políticas sociais avançaram apesar das condições econômicas. “Uma rede de proteção social bem focada foi criada e as conquistas ficaram visíveis no Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas”.
No único slide exposto para a plateia, o pré-candidato do PSDB mostrou um quadro com dados relativos aos anos da administração federal tucana, citando redução da mortalidade infantil, aumento do poder de compra do salário mínimo e redução das parcelas da população classificadas como pobre e extremamente pobre. “Ainda, alguns tipos de bens que eram escassos para a maioria tornaram-se crescentemente populares, como linhas de telefones”, exemplificou.
“O presidente Cardoso é constantemente acusado de focar em políticas de estabilização e privatização. Lula, ao contrário, é reconhecido (por ter) políticas sociais inovadoras e progressistas, preservando também a estabilidade monetária e o crescimento econômico. Na verdade, o governo Lula, em grande parte, deu continuidade às políticas sociais da administração anterior”.