Há uma semana, a carta divulgada no último dia 1º escrita pelo ex-governador de São Paulo e integrante do Conselho Político do PSDB, José Serra, na qual faz duras críticas aos governos de Luís Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, está causando polêmica entre lideranças políticas de seu próprio partido assim como do adversário. Apesar de alguns integrantes do PSDB não concordarem com a opinião de Serra exposta na carta, lideranças paranaenses do partido acreditam que o texto do ex-governador de São Paulo representa sim a ideologia desse grupo político.
Para o senador Alvaro Dias (PSDB), mesmo que os membros do partido apresentem posições variadas, as opiniões expostas na carta redigida por Serra estão de acordo com os preceitos do PSDB. “É claro que há setores do partido que são mais condescendentes, mas de forma geral há concordância em relação à opinião de Serra porque há um consenso de que o partido tem que ser duro e rigoroso no exercício do seu papel oposicionista, fiscalizando o governo e denunciando seus erros”. Ele ainda acredita que é exatamente essa a postura que a população espera que o PSBD tenha em relação aos governos do PT.
O deputado federal Alfredo Kaefer (PSDB) concorda com o senador, alegando que apesar de o texto não ter sido subscrito pelo Conselho Político do partido como um todo, Serra tem autonomia para representá-lo por ser um de seus membros. “Serra é um homem que tem uma boa visão política e, por isso, muita coisa que ele expôs no texto tem fundamento e está de acordo com os fundamentos do partido”, opina. Para ele, em particular o governo de Dilma merece a maioria das críticas feitas pelo ex-governador de São Paulo. “Este é um governo que tem apenas seis meses, mas já apresenta uma série de atritos políticos e uma situação administrativa confusa”.
Assim como Dias, Kaefer acredita que o PSDB está fazendo seu papel de opositor ao divulgar uma carta como esta. “Não dá para ser hipócrita e dizer que o governo faz tudo errado, mas ele está cometendo diversos erros. Não há foco no desenvolvimento econômico do país, há uma política cambial equivocada nem um projeto ambicioso de reforma tributária”. Para ele, outra questão que precisa de melhorias é a infraestrutura. “O balanço do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, mostra números inexpressivos, o que mostra que o governo não está investindo adequadamente em infraestrutura e logística”.
PT não reconhece críticas
Ao agradar parte de seus correligionários, Serra pode ter comprado uma grande briga com o PT. De acordo com o deputado federal e secretário nacional de Comunicação do partido, André Vargas (PT), todos os petistas que chegaram a ler o texto redigido pelo ex-governador de São Paulo avaliam-no como “absurdo”. “Serra está vendo um país que não é o mesmo que a população vê. Ele diz que o Brasil não está crescendo, mas podemos dizer com certeza que está crescendo sim, muito mais do que no período anterior, quando Fernando Henrique Cardoso era o presidente”, opina.
Para ele, as opiniões do tucano expostas na carta são “completamente sem fundamento”. “Essa crítica não é profunda, tem até muita mágoa, e a maior prova disso é que nem mesmo no próprio PSDB ele conseguiu um consenso”. No entanto, apesar não reconhecer as críticas de seu oponente, o PT não pretende respondê-lo formalmente. “Ele não tem argumentos para dizer que o país está estagnado e, por isso, não há motivo para uma resposta do PT”, finaliza Vargas.
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Em sua carta, Serra critica tanto o governo de Lula quanto o de Dilma, alegando que os erros desta começaram há oito anos, quando tiveram início as gestões do PT. “Durante o mandato de Lula, graças ao seu talento de animador e à publicidade massiva, criou-se a impressão de que a era do crescimento dinâmico havia voltado para ficar. Impressão, infelizmente, sem fundamento”, afirma. De acordo com ele, o governo Lula ainda criou travas que dificultariam qualquer governo posterior, principalmente no caso de Dilma. As críticas se estendem por toda a política econômica adotada pelos dois últimos presidentes, passando pela questão dos empregos, infraestrutura e a Copa de 2014.