O candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, defendeu hoje a demissão do secretário da Receita Federal, Otacílio Cartaxo, e do corregedor-geral da instituição, Antonio Carlos Costa D’Ávila, pelos episódios de vazamento de dados fiscais sigilosos de contribuintes. O tucano afirmou que se estivesse no lugar do presidente Luiz Inácio Lula da Silva já teria dispensado os dois por considerá-los responsáveis pela quebra de sigilo.

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“Eu teria demitido o secretário e o corregedor da Receita. Eles são não só os responsáveis como também têm ocultado provas sistematicamente. Eu começaria por aí”, disse o tucano, durante gravação do programa Jogo do Poder, da Rede CNT. Ele acusou o governo de “passar a mão na cabeça” dos que cometem irregularidades e disse que a demissão da cúpula da Receita serviria de exemplo. Para o candidato, a instituição hoje sofre com “delinquência, corrupção e falta de firmeza”.

Durante o programa, Serra também criticou as medidas anunciadas ontem pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, de criar uma lista com os nomes de políticos que terão seus dados cadastrais mais protegidos do que os dos demais contribuintes. “É uma proteção vip. Ou protege todo mundo na sociedade, ou deixa todo mundo igual. Isso parece brincadeira, sinceramente”, afirmou.

O candidato considerou a medida uma “estratégia eleitoral” e acredita que a solução apresentada pelo governo é inconstitucional porque diferencia políticos dos demais cidadãos. “Todo mundo tem que ser igual perante a lei”, argumentou.

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Serra lembrou que o escândalo surgiu com o vazamento dos dados do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, e voltou a culpar a campanha à Presidência da petista Dilma Rousseff pelo episódio. “O ponto é: estava no comitê da Dilma. O resto é para distrair a atenção”, reforçou.

Questionado sobre sua queda nas pesquisas de intenção de voto, Serra argumentou que pesquisa é um retrato do momento e não “pré-votação”. “A eleição é uma partida jogada no dia. As pessoas não estão votando agora”, rebateu. O tucano admitiu que já espera uma “campanha dura” porque a candidatura da adversária petista “mistura governo, partido e muito recurso”.

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Irritação

Convidado para a gravação de uma entrevista que vai ao ar hoje à noite na rede CNT, Serra se irritou logo no primeiro bloco ao ser questionado sobre as pesquisas e sobre o episódio da Receita. Tentando evitar o assunto, alegou que a questão da Receita era um “assunto da imprensa” e que preferiria discutir sobre suas propostas de governo.

Mas ao ser pressionado pelos jornalistas Alon Feuerwerker e Márcia Peltier (a quem havia elogiado momentos antes por sua “juventude”), Serra interrompeu a entrevista bruscamente. “Não vou dar essa entrevista, vocês me desculpem”, disse.

Para a surpresa dos jornalistas, o tucano se levantou e reiterou que eles estavam perdendo tempo com aquelas questões. “Faz de conta que eu não vim”, disse, já se retirando do estúdio de gravação. “Eu não posso fazer um programa sem perguntas”, argumentou Márcia Peltier. Após ouvir os apelos dos entrevistadores, Serra retomou a gravação, desta vez para discutir suas propostas de governo.

Críticas

Nos três últimos blocos do Jogo do Poder, o tucano criticou a falta de infraestrutura no País e a política de juros, acusou a ex-ministra de Minas e Energia Dilma Rousseff, sua adversária neste pleito, de implantar a terceira maior tarifa de energia elétrica do mundo, afirmou que a União investe pouco em saneamento básico e acusou o governo federal de copiar as AMAs (Atendimento Médico Ambulatorial) do governo estadual paulista e dar o nome de UPAs (Unidades de Pronto Atendimento).

“Tem mais AMAs em São Paulo do que UPAs no Brasil”, disse Serra. Após gravar o programa, o candidato tucano justificou a irritação como resultado de uma indisposição estomacal, proveniente da agenda corrida de campanha.