O presidente da Comissão de Relações Exteriores, senador Heráclito Fortes (DEM-PI), reagiu aos elogios que o assessor especial da presidência da República para Assuntos Internacionais, ministro Marco Aurélio Garcia, fez ontem ao regime de Hugo Chávez. Na opinião do senador, as declarações de Garcia foram "desrespeitosas e inoportunas, um procedimento que envergonha a todos nós brasileiros". Mostram, também, disse Heráclito Fortes, que o governo brasileiro está "acendendo uma vela a Deus e outra ao diabo". Outros senadores da oposição anunciaram que, enquanto Chávez não se retratar, vão criar "obstáculos" para aprovar a entrada da Venezuela no Mercosul.

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Acompanhando o presidente Lula na visita oficial à Índia, Marco Aurélio Garcia admitiu que a moção dos senadores "não foi ofensiva", mas acrescentou que não via "nada de ilegal" na ordem de Chávez para mandar fechar o mais antiga emissora do país, a RCTV. "Em raros países eu vi a imprensa falar com tanta liberdade quanto na Venezuela", afirmou o assessor especial da Presidência. Na quarta-feira passada, o senadores aprovaram uma moção pedindo ao presidente da Venezuela que revisse a posição sobre a RCTV.

Heráclito Fortes viu uma "costura mal cerzida" na defesa feita pelo ministro Garcia. Chávez havia atacado o Congresso ao saber da moção dos senadores, chamando o Legislativo brasileiro de "papagaio de Washington". Lula criticou a declaração de Chávez, Garcia concordou com a crítica do presidente, mas, em Nova Deli, fez os elogios à "liberdade de expressão" e aos "princípios democráticos" que, na visão dele, vigoram na Venezuela.

O senador Pedro Simon (PMDB-RS) chamou de "jogo de cartas marcadas" a aparente contradição entre as declarações de Lula e de Marco Aurélio Garcia. Para o senador gaúcho, a queda de braço entre Lula e seu ministro foi combinada, uma forma de amenizar a iniciativa do Itamaraty de pedir explicações ao embaixador venezuelano no País, Julio García Montoya, sobre a forma grosseira como Chávez reagiu à iniciativa do Senado.

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O senador Simon acredita que o suposto impasse mostra "como não é uma coisa muito séria o relacionamento do presidente Lula com a Venezuela, mas por conta do presidente daquele país". Acrescentou: "Lula não quer brigar nem com o Chávez, nem com a Bolívia, nem com o Paraguai, daí porque tenta apaziguar a situação".

Da tribuna, os discursos contra o destempero do presidente Chávez uniram parlamentares da oposição e do governo. Os líderes do DEM e do PSDB, senadores José Agripino (RN) e Arthur Virgílio (AM), anunciaram a decisão dos partidos de "obstaculizar" a tramitação da proposta que trata do termo de adesão da Venezuela ao Mercosul, se o presidente Chávez não se retratar. "Faremos isso em nome do respeito a um pilar muito importante que é exigido de qualquer participante ou sócio do Mercosul, que é a absoluta vigência do regime democrático e seus princípios", alertou Agripino.

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No entender do senador Virgílio, cabe agora aos parlamentares brasileiros barrar "toda e qualquer atitude que venha contra a consolidação do regime democrático na América Latina". "A vontade que Chávez tem de se perpetuar no poder é proporcional à incompetência que ele tem para perceber o mundo que o envolve", disse Virgílio. "Seria um ditadorzinho qualquer, um aprendiz de ditadorzinho se não tivesse a única riqueza daquele país para sustentá-lo". O peemedebista Valter Pereira (PMDB-MS) defendeu que a reação do presidente venezuelano em relação ao Senado lembra muito o período da ditadura no Brasil, quando os militares se irritavam contra os que cobravam a volta da democracia.