Em um depoimento interrompido por choros, o senador boliviano Roger Pinto Molina relatou nesta quarta-feira, 11, à Justiça Federal que o escritório da embaixada brasileira em La Paz, onde ficou asilado durante um ano e três meses, correu risco de invasão por aliados do governo Evo Morales, que queriam prendê-lo. “Eu ouvia uma multidão gritar ladrão, corrupto, e dizer ‘vamos invadir a embaixada para tirar o senador'”, afirmou. “Todos os dias eram difíceis, insuportáveis, iguais.”

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O senador disse que francos atiradores foram posicionados diante do prédio da representação brasileira e os funcionários do Itamaraty acabaram criminalizados. Diante do juiz federal Itagiba Catta Preta Neto, Pinto Molina disse que Juan Ramón Quintana, ex-ministro da Presidência da Bolívia, pagou um matador para eliminá-lo. O senador ainda acusou o governo Evo Morales de relações com cartéis de cocaína. O diplomata brasileiro Eduardo Saboia, que ajudou Pinto Molina a sair da embaixada e vir para o Brasil evitou comentar a declaração do senador. Saboia observou que não estava durante todo o período de permanência dele no prédio.

Representantes da Advocacia Geral da União (AGU) que acompanharam o depoimento não questionaram o senador sobre os riscos que a embaixada brasileira teria sofrido. Israel Pinheiro, subprocurador regional da AGU, que também acompanhou o depoimento, se limitou a questionar Pinto Molina sobre o possível risco de morte que ele correu durante a viagem ao Brasil, que não foi comunicada ao governo boliviano. Em determinado momento, o juiz Catta Preta Neto reclamou que o representante da AGU quis impedir perguntas da defesa do diplomata Eduardo Saboia. Catta Preto observou, em outro momento, que o Brasil não vive uma ditadura. “Deus nos livre”, desabafou.

O advogado Ophir Cavalvante, ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) que defende Saboia, avaliou que a estratégia da AGU é insistir na tese de que o senador correu risco de morte ao fazer a viagem para o Brasil. “Está claro, no entanto, que pela demora dos governos no caso, o senador não tinha outra opção, sob pena de mofar até a morte no cativeiro.”

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No seu depoimento, o senador disse que a saída da embaixada não foi de risco total. Ele lembrou que foi acompanhado por Saboia e por fuzileiros da embaixada durante todo o trajeto. Ele contou que, durante a permanência na representação brasileira, o ex-embaixador brasileiro Marcel Biato relatou que o governo boliviano chegou a propor a sua viagem para o Brasil sem um “salvo-conduto”, uma autorização. Os diplomatas estranharam a proposta. Pinto Molina disse que estava em processo de “degradação mental” quando recebeu ajuda para sair da embaixada, onde viveu num quarto de 4 metros quadrados, sem luz direta do sol ou banheiro. “Devo a minha vida ao Eduardo e a minha liberdade ao Brasil.”