O primeiro secretário do Senado, Heráclito Fortes (DEM-PI), determinou na terça-feira a abertura de sindicância para apurar o responsável pelo vazamento do sigilo telefônico do senador Tião Viana (PT-AC). A conta do telefone celular do Senado que o petista emprestou à filha em viagem de férias ao México foi de R$ 14.758,07, conforme revelou o Estado. O extrato com o gasto circulou nas mãos de vários senadores do PMDB antes de a operadora TIM enviá-lo ao Senado. O valor corresponde a 20 dias de uso (de 2 a 22 de janeiro) e foi pago por Tião, no dia 18 de março, após a denúncia de adversários na guerra entre PT e PMDB desencadeada com a eleição de José Sarney (PMDB-AP) para a presidência do Senado.

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A sindicância, que ficará a cargo da diretoria geral do Senado, deverá ser concluída em dez dias. “Determinei a sindicância para apurar como essa conta de telefone foi vazada”, disse Heráclito Fortes. “Sei que foi por um funcionário”, afirmou. O corregedor-geral do Senado, Romeu Tuma (PTB-SP), explicou que o caso foge de sua alçada. “A corregedoria só poderia atuar se a quebra de sigilo tivesse sido feita por um senador para atingir outro. A corregedoria não tem ascendência quando se trata de funcionário. Aí cabe processo administrativo”, argumentou Tuma.

O presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), defendeu que o Senado tome providências, como limitar os gastos dos parlamentares com o telefone celular. “Não se pode ter telefone sem limite de valor. É preciso ter um valor razoável, equilibrado, mesmo que seja alto, mas explicável para a sociedade. Qualquer empresa, qualquer instituição sabe até onde vai o razoável”, afirmou o tucano. “Agora, conta de celular nunca pode ser de R$ 14 mil, nem R$ 10 mil”, completou Guerra.

Para o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), o Senado precisa ser transparente e divulgar mensalmente os extratos de todas as contas telefônicas dos parlamentares. “Temos de abolir o sigilo de todos os gastos com dinheiro público”, disse Buarque. “Tem de baixar uma regra de que não há sigilos daqui para a frente”, explicou. Na opinião do senador Waldir Raupp (PMDB-RO), a quebra de sigilo telefônico de um senador “é ruim”. “A Mesa do Senado tem de tomar providências”, disse Raupp.

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Ao confirmar ao Estado o valor de R$ 14.758,07 de sua conta de telefone celular, Tião Viana insistiu na justificativa de ter agido como pai preocupado com a ausência da filha do País. “Eu cometi um erro, paguei caro por esse erro e juro que foi a única vez em que emprestei o celular. Minha decisão foi tomada por puro instinto paternal, querendo manter contato com minha filha pelo fato de que ela e uma amiga atravessaram o México em uma viagem de ônibus”, disse o petista. No dia 18 março, abalado pela denúncia de uso indevido do telefone celular, o petista depositou o valor dos gastos na conta da administração do Senado.