Roseane Alves, de 57 anos, saiu de Trindade, em São Gonçalo, região metropolitana fluminense, no dia 11, uma terça-feira, e seguiu até a sede da Assembleia Legislativa fluminense, no centro do Rio. A distância de 37 quilômetros foi percorrida em pouco mais de hora e meia de ônibus.
Na bolsa, a pensionista do Estado levava uma garrafa de água, que deixara no congelador durante a madrugada para manter a temperatura fresca por mais tempo. Nas mãos, uma cartolina e uma caneca verde. Pediu ajuda a uma mulher para fazer seu cartaz, porque considera sua letra feia. Sob sol de 35 graus, ao pé da estátua do Tiradentes que dá nome à sede do Legislativo fluminense, pediu dinheiro aos passantes. “Três meses sem salário, três meses sem dignidade. Uma esmola, por favor”, dizia para quem passava.
Foi ignorada por muitos. A ajuda veio de alguns mais humildes. Ficou comovida com a solidariedade de um ambulante, que depositou R$ 2 na caneca. Seis horas depois, voltou para casa sem voz, com R$ 120. O suficiente para pagar a conta de luz, que venceria em quatro dias.
Dignidade. A pensionista não foi às ruas somente para arrecadar dinheiro. Precisava desabafar, como disse para a reportagem do Estado. “Eu quero botar a minha cara na rua. A sociedade tem que saber o que nós estamos passando. Não somos só nós (servidores e pensionistas) que estamos perdendo a dignidade. A população fluminense também perdeu. Porque não tem educação, saúde, segurança pública. Até quem tem salário, mas não tem essas coisas, perdeu a dignidade.”
Roseane foi casada por 15 anos com Getúlio Carlos Ferreira da Silva. Ele trabalhou como auxiliar de registro de empresas da Junta Comercial do Rio por 38 anos. Saiu aos 56, “praticamente morto”. “Entre a descoberta do câncer e a morte dele, passaram-se 34 dias”, contou. Ela ficou com a pensão do marido, de cerca de R$ 3 mil, o suficiente para uma vida “sem luxos, mas também sem grandes preocupações”.
“O último salário que eu recebi foi o de janeiro. Não recebi 13.º, nem fevereiro, nem março. Abril já está vencendo e não informam o calendário de pagamento nem das migalhas que estavam liberando. Não sei quando vou ter dinheiro. Tudo o que eu tinha eu perdi. Nunca pensei em passar por situação dessas”, desabafou. “Pode parecer duro o que eu vou falar: dou graças a Deus pelo meu marido ter falecido e não passar por esse momento. Ele era extremamente correto com as contas dele.”
Na semana passada, sem dinheiro na carteira, foi a uma agência da Caixa e sacou R$ 190 de uma conta inativa do FGTS. “Meu aluguel é direto com proprietário. Ele sabe que eu sou pensionista. Quando tenho, pago. Quando entra algum dinheiro, compro arroz, feijão, para não passar fome.”
Pezão. O agravamento da situação financeira levou a pensionista a sofrer de depressão e síndrome do pânico, disse ela. Não conseguia sair de casa. “Tomo 3 mg de remédio tarja preta para dormir. Meu sofrimento é físico, emocional. Eu não atendia telefone, com medo das cobranças. Agora eu atendo e mando cobrar do (governador Luiz Fernando) Pezão. Quando ele me pagar, eu pago o que devo”, afirmou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.