CELULAR AO VOLANTE

Sem habilitação há dois anos, Paulo Bernardo aproveita férias para fazer reciclagem

Em uma sala do primeiro andar da Escola de Educação de Trânsito de Brasília um aluno ilustre assistia discretamente, na segunda-feira, à sexta aula do programa de reciclagem para motoristas que perderam a carteira. O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, há dois anos sem habilitação, decidiu aproveitar as férias para retomar o direito de dirigir.

Na sua sala, a maior parte dos cerca de 50 alunos não sabia que o colega era ministro até a reportagem chegar. O assunto, no entanto, virou piada quando os colegas entenderam quem era o senhor grisalho sentado na primeira fila. “Se até ministro tem aqui, a lei está funcionando. Quem sou eu para reclamar”, disse um dos presentes, arrancando risadas dos colegas.

Paulo Bernardo contou que perdeu a carteira há mais de dois anos, quando passou dos 30 pontos em infrações – o limite máximo é de 20 pontos. Ao ser notificado pelo Departamento de Trânsito (Detran), entregou a carteira e, afirmou, não dirigiu mais. Em Brasília, usava o motorista do ministério. Em Curitiba, entregava a direção para sua mulher, a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann.

“Tinha de fazer o curso, mas cadê tempo?”, disse. “Agora aproveitei as férias.” Ao sair do curso, pegou uma carona e fez piada sobre o colega que saiu do prédio do Detran dirigindo apesar de, obviamente, estar sem carteira.

Apertado em uma carteira pequena demais, o ministro parecia concentrado no que dizia a instrutora, mas reagiu com bom humor ao ser fotografado. Alguns colegas, no entanto, preferiram sair da sala para não correr o risco de aparecer em uma foto como infratores. A maioria também perdeu a carteira por excesso de pontos.

Paulo Bernardo reconhece que suas infrações são principalmente excesso de velocidade e falar ao celular enquanto dirige. Justifica que em Curitiba, sua cidade natal, a fiscalização é muito rígida. Tem certeza que alguns pontos não são seus, mas conta que não contestou e agora é tarde. “A responsabilidade é minha. E é melhor fazer logo do que tentar dar jeitinho. Isso nunca funciona”, disse.

Reciclagem

O curso do Detran é feito em oito dias úteis de aulas, das 8h às 11h30. O motorista revisa as leis de trânsito, aprende sobre direção defensiva e tem noções de primeiros socorros. Ao final dos oito dias – Paulo Bernardo termina hoje -, é preciso acertar 70% das 40 questões da prova. Se isso não acontece, há uma nova chance. Mais um fracasso e o motorista precisa fazer todo o curso de novo.

Paulo Bernardo não é a primeira presença ilustre na Escola de Trânsito de Brasília. Há quatro anos e meio, o campeão de Fórmula 1, Nelson Piquet, também foi pego fazendo o curso. Piquet tinha 128 pontos na carteira, de acordo com o Detran. Mas o piloto garante que seus mesmos eram apenas 28. 

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