Sem acordo, PT é atropelado na CPMI

Foto: Celso Júnior/Agência Estado
Oposicionistas festejaram a vitória levantando nos braços o deputado paranaense Osmar Serraglio.

Sob aplausos dos oposicionistas e protestos indignados dos petistas, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios aprovou ontem, por 17 votos a 4, o relatório do deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), que apontou a existência do mensalão e pediu o indiciamento de mais de cem acusados, entre os quais, o ex-deputado José Dirceu (PT-SP) e o chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos (NAE) da Presidência da República, Luís Gushiken. A tumultuada sessão durou menos de 30 minutos e quase terminou em pancadaria.

 A maioria dos 17 votos a favor do relatório foi dada por parlamentares da oposição. Três governistas surpreenderam por votar, na última hora, com Serraglio: o vice-presidente da CPMI, Asdrúbal Bentes (PMDB-PA), e os deputados Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) e Luiz Antônio de Medeiros (PL-SP). O presidente da CPMI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), não deixou os integrantes da comissão discursarem ao dar os votos. Eles também não puderam comentar as modificações feitas durante a tarde no relatório por Serraglio.

O PT tentou, então, adiar a votação, exigindo por escrito as modificações pontuais feitas pelo relator. Mas Amaral manteve o pulso firme e continuou a chamar os parlamentares para votar, ignorando os protestos dos companheiros de partido. O PT anunciou que recorrerá à presidência do Congresso para anular a sessão.

"Essa votação foi completamente errada porque em toda CPMI cabe a votação de destaques", reclamou o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (SP), que apareceu na sessão da comissão depois que o relatório estava aprovado. "Foi uma sessão antidemocrática", disse o deputado Jorge Bittar (PT-RJ), que ficou tão irritado a ponto de quase agredir Amaral. Os parlamentares do PMDB do Senado não votaram o relatório. "Gostaria que houvesse alguma negociação para essa votação não parecer uma ditadura", afirmou o líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB).

A votação do relatório final de Serraglio começou às 18 horas, depois que fracassou a tentativa de acordo entre governo e oposição, negociada durante todo o dia. Apesar de o relator ter poupado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a votação foi uma derrota para o governo. Além de indiciar ex-estrelas petistas, o relatório afirma com todas as letras que o governo montou um esquema de pagamento de parlamentares para votar a favor de propostas de seu interesse. Diz ainda que recursos do Banco do Brasil (BB), por meio da Visanet, foram desviados para o valerioduto.

O risco de a CPMI se encerrar sem um relatório final ou de os governistas serem obrigados a derrubar o texto de Serraglio preocupava o governo nos últimos dias. Na manhã de ontem, o deputado Maurício Rands (PT-PE) e a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), estiveram no Palácio do Planalto para uma reunião com o chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Tarso Genro. Mercadante também esteve no Planalto. A ordem era tentar fechar um acordo. No início da sessão para votar o relatório, Serraglio leu mudanças pontuais. Ele retirou da lista de pessoas que sacaram recursos do mensalão o nome de Márcio Lacerda, que foi secretário-executivo do Ministério da Integração Nacional, comandado até a semana passada pelo ex-ministro Ciro Gomes. Serraglio também retirou dos pedidos de indiciamento o presidente da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), Jânio Pohren, do ex-presidente do Banco do Brasil Cássio Casseb e do vice-governador de Minas Gerais, Clésio Andrade (PL).

A radicalização do PSDB e do PFL seguiu orientação direta da cúpula dos dois partidos. Já pela manhã, o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) considerava difícil um acordo. O deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) falou na possibilidade de acordo, mas, às 15 horas, o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), avisou: "O partido não vai aceitar mudança nos pontos principais: ‘mensalão’, dinheiro abastecido com o Visanet, fundos de pensão e os indiciamentos já propostos".

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