A eleição para a prefeitura da capital gaúcha terá segundo turno entre os candidatos Nelson Marchezan Júnior (PSDB) e Sebastião Melo (PMDB), que contabilizaram 29,84% e 25,93% dos votos, respectivamente. A primeira colocação do tucano pode ser considerada uma surpresa, já que o peemedebista, vice-prefeito de Porto Alegre, liderou todas as pesquisas de intenção de votos nas últimas semanas. Já Marchezan aparecia na segunda colocação, tecnicamente empatado com Raul Pont (PT).
O PSDB integrava o governo municipal até o fim de 2015. Formalizou a saída para lançar candidato próprio na corrida eleitoral deste ano. Marchezan chegou a hesitar em entrar na disputa, já que o PSDB não tem tradição política em Porto Alegre. A candidatura ganhou força com a aliança formada com o PP, que indicou o vice, Gustavo Paim. Na coletiva de imprensa concedida neste domingo, após a apuração dos votos, Marchezan agradeceu ao PP, que, de acordo com ele, “foi fundamental para viabilizar a candidatura”.
Natural de Porto Alegre, Marchezan, de 45 anos, é advogado e deputado federal em segundo mandato. O tucano se dividiu entre Brasília e Porto Alegre ao longo de todo o primeiro turno. “Deixamos de tê-lo aqui em alguns momentos. Mas acho que isso foi compensado porque o eleitor reconhece que lá ele está cumprindo com sua responsabilidade”, disse o coordenador da campanha, Kevin Krieger.
Marchezan teve uma atuação forte nas redes sociais e conquistou a simpatia do eleitorado jovem. Ele levou à discussão local uma de suas principais bandeiras na Câmara dos Deputados: a necessidade de enxugar a máquina pública e dar mais eficiência e transparência à gestão de recursos. Nos debates, também privilegiou o tema da segurança pública, defendendo que a prefeitura tenha “mais protagonismo” no combate à violência. O Rio Grande do Sul vive uma crise na área, com a diminuição do efetivo policial e o aumento da criminalidade.
Como Melo aparecia na liderança das pesquisas, Marchezan travou um duelo particular com Pont, ex-prefeito de Porto Alegre, pela outra vaga no segundo turno. A vitória do tucano representa mais uma derrota do PT, justamente numa cidade que o partido governou por 16 anos – entre 1989 e 2004.
Pont, que terminou em terceiro, com 16,37% dos votos válidos, usou a imagem da ex-presidente Dilma Rousseff em programas de televisão e costumava dizer que um dos objetivos de sua campanha era dar continuidade à “luta contra o golpe”. Marchezan, por sua vez, era apoiado pelo Movimento Brasil Livre (MBL), grupo que participou da organização de protestos a favor do impeachment de Dilma.
Melo, de 53 anos, nasceu em Goiás, mas fez carreira política em Porto Alegre. Formado em Direito, hoje representa uma aliança (entre PMDB e PDT) que administra a capital gaúcha há 12 anos. Ele foi o principal alvo dos adversários, que usaram os debates para questioná-lo principalmente sobre o atraso na conclusão de obras públicas e a atuação da prefeitura no combate à violência. A estratégia do peemedebista foi exaltar conquistas de sua gestão, mas reconhecer que há o que melhorar. A chapa mantém a dobradinha com o PDT, que indicou a vice Juliana Brizola – neta de Leonel Brizola.
Ao falar com a imprensa na noite de domingo, Melo já deu o tom de como será a disputa com Marchezan no segundo turno, ao disparar que os eleitores “não querem aventuras para Porto Alegre”. O peemedebista se define como a “mudança segura” para a cidade.
Nos programas de TV, Melo evitou vincular sua imagem à de outros peemedebistas que estão no poder. Nem o presidente Michel Temer nem o governador José Ivo Sartori – ambos do seu partido – foram mencionados nas inserções diárias. O coordenador da campanha, Antenor Ferrari, disse que o governador gaúcho gravou participações para os programas de TV, mas a equipe preferiu priorizar a presença da própria sociedade. “Como o tema é a cidade, não tivemos manifestações políticas de grandes lideranças”, afirmou Ferrari.
Melo conseguiu superar as críticas e o desgaste do prefeito José Fortunati (PDT) e cresceu ao longo da campanha, impulsionado pela visibilidade na televisão. Com 14 partidos em sua coligação – entre eles PDT, PSB, PSD, DEM e Rede -, ele teve quase 4 minutos em cada propaganda obrigatória na TV, o maior tempo entre todos os candidatos.
Em situação inversa esteve a candidata Luciana Genro (Psol). A ex-deputada federal começou a campanha, em agosto, à frente nas pesquisas. Mas terminou o primeiro turno em quinto lugar, com 12,06%, atrás inclusive do deputado estadual Maurício Dziedricki (PTB), que somou 13,68% dos votos válidos. O Psol atribui a queda ao fato de Luciana ter tido apenas 12 segundos na propaganda eleitoral.