Principal assessor e responsável pelo capítulo econômico do programa de governo do candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro, o economista Paulo Guedes defendeu na sexta, 27, a participação de militares em um eventual gestão do deputado fluminense. “Entrou alguém que estava na guerrilha há 20 anos, por que não pode entrar um (ex-) capitão do Exército?”, questionou Guedes, em entrevista ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado.
O comentário de Guedes é uma referência à presidente cassada Dilma Rousseff (PT), que atuou na Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares) durante a ditadura militar, e a Bolsonaro, que é militar reformado.
Numa tentativa de dirimir a desconfiança de agentes econômicos em relação à candidatura de Bolsonaro, Guedes ressaltou sua confiança nas instituições e na democracia, que, segundo ele, “dão segurança à alternância de poder”. Como exemplo, disse que quando o Executivo “se portou mal”, houve impeachments de presidentes, e quando o Legislativo se portou mal, o Judiciário agiu.
Ao apresentar as linhas gerais do programa econômico de Bolsonaro, Guedes afirmou que o “objetivo absoluto” é o controle de gastos com a meta de zerar o déficit primário em um ano. “Vamos tentar um ataque frontal e zerar o déficit (nas contas públicas) em um ano.”
Questionado sobre a disposição de Bolsonaro para fazer uma agenda de reformas econômicas liberais, Guedes disse que o pré-candidato entende que precisa ser feita uma transformação no Estado brasileiro. “Ao contrário do que todo mundo pensa, porque todo mundo tem medo às vezes do Jair Bolsonaro, não tem ameaça nenhuma, ele é muito ponderado sobre o que é possível fazer.”
Forte defensor do liberalismo na economia, Guedes demonstrou disposição para a negociação política em torno de propostas econômicas em caso de resistência do Congresso. “Você acha razoável numa democracia alguém ter carta branca para fazer tudo o que quer? Ou será uma resultante do processo político? Acredito que será resultante do processo político”, disse. “Ninguém é salvador da pátria, ninguém vai fazer nada sozinho, não existe plano mirabolante para salvar o País.”
Ao falar de política, o economista afirmou que Bolsonaro tem como condição não fazer negociações com base no “toma lá, dá cá”. “Posso testemunhar que não ouvi um minuto de conversa não republicana do Jair Bolsonaro topando acordo para fazer isso ou aquilo. É inacreditável, mas é fato”, disse.
Segundo Guedes, o presidenciável conversou com o PR, partido integrante do Centrão, porque queria o senador Magno Malta (ES) como vice, já que o parlamentar do PR “foi um cara muito firme durante o impeachment da ex-presidente Dilma e é religioso”. No relato do economista, Bolsonaro disse: “Eu quero o Magno Malta, não é o partido dele”. De acordo com Guedes, quando as negociações passaram a incluir outros nomes do PR e articulações com diretórios estaduais, Bolsonaro disse que não aceitava imposições.
Nomes. O economista afirmou ainda que o nome da advogada Janaína Paschoal, uma das autoras do pedido de impeachment de Dilma, segue aventado como possível vice. Na aproximação com a jurista, disse, Bolsonaro “deu testemunho de que preza, sim, as mulheres”. Segundo ele, o candidato “tem três, quatro soluções internas” para a composição da chapa.
Guedes citou o príncipe Luiz Philippe de Orleans e Bragança, descendente da família real, que “fala várias línguas, é um constitucionalista”, e o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS), “que é o braço direito político” de Bolsonaro.
O economista ainda negou atritos internos na campanha em torno do cancelamento de sua participação na Cúpula Conservadora das Américas, inicialmente agendada para este fim de semana, em Foz do Iguaçu (PR). Guedes alegou problemas de agenda para cancelar sua ida, segundo ele, antes mesmo de o evento ser adiado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.