Para José Ivo Sartori (MDB), governador do Rio Grande do Sul e candidato à reeleição, “faltou capacidade de articulação” de sua gestão para a aprovação de projetos importantes para a recuperação do Estado. Sartori, por exemplo, não conseguiu passar na Assembleia Legislativa o plebiscito para privatização de estatais, ponto-chave para o Estado conseguir ajuda federal para a crise fiscal.
O governador também disse que “arrumou a casa” e que a crise gaúcha seria “muito pior” sem as ações tomada por sua administração.
A seguir, os principais trechos da entrevista de José Ivo Sartori ao jornal O Estado de S. Paulo.
Em seus discursos o sr. fala sobre pessoas que diziam uma coisa e votavam em outras. De quem o sr. se refere e como o sr. vê aliados e ex-aliados votando contra o governo na Assembleia Legislativa?
Teríamos que ver qual votação especificamente. No conjunto, aprovamos mais de 80% do que enviamos. Inclusive, algumas pautas pesadas, como a Lei de Previdência Complementar e a Lei de Responsabilidade Fiscal Estadual. Outros projetos não foram aprovados, etc. No geral, tivemos muito apoio da Assembleia.
Mas o sr. comentou uma vez que “alguns votam lá em cima (Brasília) uma coisa, e aqui votam outra”. O que votaram lá em cima e quem são esses?
A Previdência Complementar.
E quem seriam?
Não sou daqueles que vai acusar alguém. Sou muito atacado por não atacar os outros. Quero olhar para frente. Quem quiser ficar com essa situação que está aí, fique. Amanhã ou depois vão sentir a dificuldade, vão compreender que não estamos mais na época da Arena e do MDB.
O sr. recebeu o Estado em dificuldade financeira e depois de quatro anos essa crise continua. O que o sr. acha que faltou para seu governo resolver a questão?
Assumimos em 2015 com uma previsão de déficit para 2018 de R$ 25,5 bilhões. Vamos entregar com déficit em torno de R$ 9 bilhões. Tivemos que arrumar a casa: reduzimos secretarias, cortamos cargos de confiança, extinguimos fundações. Se nós não tivéssemos feito nada, a crise no Rio Grande do Sul seria muito pior, de forma acentuada. Acho que o Estado precisa ser reformatado para se voltar para à sociedade, e isso leva tempo. Para cair em desgraça é rápido, para se construir leva tempo.
Alguns crimes estão migrando para o interior, mas existem cidades no Estado que não possuem efetivo fixo da Brigada Militar (a PM gaúcha) e até delegacias. Isso não facilita para o criminoso?
Nosso processo, quando chamarmos os concursados é para colocar um mínimo de soldados nos municípios. Acredito que todos tenham alguma coisa, podem não ter o suficiente. Mas adotamos um critério: a cidade que colabora com a segurança, tem um trabalho na área, vai ter mais valor que outro que não tenha colaborado. Às vezes a presença policial é importante, mas tem a tecnologia, a informação. Isso também faz parte do processo. Temos que ter a visão de onde tem que ter mais atuação, que são nos 19 municípios mais populosos.
O sr. tem um atrito com servidores públicos que, podemos dizer, começou na campanha de 2014 quando o sr. afirmou que o magistério deveria procurar o piso (salarial) numa loja de material de construção…
Na verdade, quem usou essa frase não fui nem eu. Fui desonesto intelectualmente por não citar a fonte. Mas eu aceito ficar com ela, até porque quem criou o piso não fui eu, foi quem não cumpriu.
E como o sr. pretende pagar os servidores, que estão com salários parcelados há 33 meses, em dia?
Se tu tiver uma ideia, diante da dificuldade financeira que existe, vou aceitar de bom grado. Nunca tivemos receio de fazer isso. Sei o que representa um pai, uma mãe de família não receber em dia. Mas nunca atrasamos o salário mais do que o décimo dia útil, e primeiro pagamos quem ganha menos. Converso com servidores e a maioria está compreendendo. É a realidade que está aí. Não vou ser incoerente ao ponto de não fazer isso.
O que o sr. acredita que faltou no seu governo?
(Pausa) Acho que faltou um pouco daquela compreensão geral de que muitos problemas só podem ser resolvidos com união e solidariedade. Mas talvez seja culpa minha, ou do nosso governo, de não ter tanta capacidade de articulação.
Isso volta à falta de apoio na Assembleia?
A Assembleia é um poder autônomo e lá está a representação da sociedade e eu tenho que respeitar as suas decisões.
No jingle da campanha de 2014 o sr. dizia “que a vida só melhore”. A vida melhorou no RS?
Olha, eu acho que ninguém esperava que fôssemos tomar as atitudes que tomamos. Por mais duras que elas sejam, elas foram tomadas olhando para 11 milhões e 300 mil gaúchos. Pode não melhorar agora, mas vão melhorar no futuro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.