A notícia de que o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), sabia da existência dos atos secretos desde o fim de maio reforçou o discurso da oposição em favor do afastamento do peemedebista. A avaliação é a de que fica caracterizado mais um indício de quebra de decoro parlamentar, já que Sarney mentiu ao dizer da tribuna que não sabia o que era um ato secreto, após o esquema de boletins ocultos ter sido revelado pelo Estado em 10 de junho.
A informação de que Sarney já sabia dos atos foi noticiada ontem pelo Estado, em entrevista com o ex-diretor de Recursos do Senado Ralph Siqueira. Segundo ele, todos os seus superiores foram avisados. A conversa com Sarney teria acontecido entre os dias 28 e 29 de maio. Siqueira disse que, no despacho, informou Sarney de que havia sido criada uma comissão para investigar os atos, já que havia indícios de omissão deliberada.
“Se este fato se comprovar, está caracterizada a quebra de decoro. Para nós, este elemento sozinho já seria suficiente”, reagiu hoje o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN). “Isso acrescenta mais uma motivação à nossa intenção de votar a favor da abertura dos processos contra ele.” Agripino voltou a criticar a articulação liderada nos bastidores pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para assegurar a permanência de Sarney no cargo. “Ao final, vamos ver se prevalecem os fatos ou as manobras.”
O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), disse que vai discutir o assunto com a bancada na próxima semana. Segundo ele, a base governista trata as sucessivas denúncias contra Sarney como “jogo matemático”. “Esta é mais uma contradição, que só faz aumentar o clima de desconfiança.”