O presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), admitiu nesta segunda-feira, 10, que o partido está desembarcando do governo Michel Temer “independentemente” de sua vontade. “O que eu tenho dito não é consenso, mas o que tenho visto é que o partido está desembarcando independentemente do meu controle e da minha vontade”, afirmou o senador após jantar com líderes tucanos no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, a convite do governador Geraldo Alckmin. Ele contou ainda que o partido deverá fazer uma “renovação total” de seus quadros em agosto, quando deverá realizar uma convenção para a eleição da Executiva.

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Tasso disse, em coletiva de imprensa, que a legenda vai aguardar o término da votação da admissibilidade da denúncia por corrupção passiva contra Temer na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. “Estamos acompanhando. Hoje (ontem) tivemos a notícia da CCJ, notícias desencontradas sobre a data de votação. Vamos acompanhar de perto a votação”, disse. Segundo ele, o partido não poderia definir uma posição ontem porque não era uma reunião da Executiva. O encontro durou quatro horas.

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Um dia depois de afirmar que o PSDB deve apoiar o governo somente até a aprovação das reformas, Alckmin reuniu os líderes para firmar um pacto de não agressão entre a ala que quer o desembarque imediato da base e o grupo que trabalha pela permanência. “Mas vai ficando claro na consciência dos líderes qual é o melhor caminho para o futuro”, disse ele, esquivando-se de dizer qual seria este melhor caminho em sua opinião.

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Na coletiva, o líder da bancada na Câmara, deputado Ricardo Tripoli (SP), disse que, na CCJ, o partido deverá dar cinco votos pela aceitação da denúncia e dois contra. “Sobre a questão no plenário, vamos convidar uma reunião amanhã ou depois para (analisar) a postura da bancada. Há hoje uma maioria no sentido da admissibilidade que eu não sei quantificar ainda porque não fizemos a reunião”, afirmou. Ontem, o relator na CCJ, Sergio Zveiter (PMDB-RJ), leu seu relatório pela admissibilidade da denúncia.

A reportagem apurou que, durante o jantar, Tasso disse que o partido vai desembarcar “naturalmente”. Segundo relatos dos participantes, Alckmin concordou que está chegando a hora de os quatro ministros tucanos saírem. Também acompanharam este entendimento o senador Cássio Cunha Lima (PB), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador do Paraná, Beto Richa.

Participaram também da reunião de caciques tucanos os governadores Marconi Perillo (GO), Reinaldo Azambuja (MS) e Pedro Taques (MT), o senador Aécio Neves (MG), presidente licenciado do partido, o senador José Serra (SP) e o prefeito de São Paulo, João Doria.

Disputa

O encontro acabou por acirrar ainda mais a crise entre a cúpula e a ala mais jovem do partido. Ao saber do encontro, deputados que defendem o rompimento avisaram que a decisão da bancada no plenário da Câmara sobre a admissibilidade da denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Temer não será submetida aos dirigentes nacionais.

“Nunca aconteceu na história do PSDB de a Executiva deliberar sobre o voto dos deputados. Cada um vai votar conforme sua própria consciência”, disse o deputado Daniel Coelho (PE). Ainda segundo ele, a posição sobre o governo se concretiza apenas de um jeito: com os votos do Parlamento.

Da CCJ, o deputado Fábio Souza (PSDB-GO) disse nesta segundal, mais cedo, que a maioria dos membros da comissão devem votar pela aprovação do relatório. “Até o início da semana passada a maioria era pela permanência. Com a prisão de Geddel (Vieira Lima, ex-ministro da Secretaria de Governo), isso se inverteu.”

‘Não fui convidado’

Vice-presidente nacional do PSDB, o ex-governador Alberto Goldman disse que não foi chamado para o jantar e questionou o poder deliberativo de um encontro que não foi submetido à Executiva do partido. “Não fui convidado e não sei quem estabeleceu quem iria, mas a decisão é da Executiva. O encontro de hoje não tem caráter deliberativo”, disse o tucano.

Sem citar nomes, Goldman também questionou os interesses políticos que motivam setores do partido. “Sair do governo pode ajudar a preservar interesses pessoais ou partidários, mas não ajuda o futuro do País”, afirmou o ex-governador.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.