O governo foi surpreendido ontem (18) com o pedido de afastamento do ex-procurador-geral da República Cláudio Fonteles da Comissão Nacional da Verdade. A saída escancara as já conhecidas divergências do colegiado sobre a divulgação de investigações, revisão da Lei da Anistia, com punições a agentes do Estado que atuaram na ditadura, e abertura dos arquivos do regime militar.

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Em carta à presidente Dilma Rousseff, ele afirmou que o desligamento era “irrevogável”. Assessores do governo avaliam que a decisão, anunciada aos colegas na segunda-feira (17) numa tensa reunião do colegiado, aumenta a descrença de grupos de direitos humanos sobre o resultado das investigações.

Fonteles é o segundo dos sete integrantes da comissão que se desliga desde o início dos trabalhos, em maio do ano passado. Gilson Dipp, ministro do Superior Tribunal de Justiça, o primeiro a sair, alegou motivos de saúde. Fonteles e a atual coordenadora do grupo, Rosa Cardoso, foram os que mais se aproximaram das famílias de mortos pela ditadura.

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Agora, Rosa Cardoso, que foi advogada de Dilma no tempo da repressão, enfrentará sozinha dentro da comissão a psicanalista Maria Rita Kehl e o professor de ciência política Paulo Sérgio Pinheiro, que não aceitam a divulgação dos trabalhos. Eles insistem que a publicidade das investigações deve se restringir ao relatório que será apresentado no final de 2014. O jurista José Paulo Cavalcanti Filho tem evitado o embate. Já o advogado José Carlos Dias não esconde o cansaço nas atividades do grupo, dizem assessores.

Ontem (18), ao participar de evento na Procuradoria-Geral da República, Fonteles evitou polemizar. “Meu trabalho na Comissão da Verdade cumpriu-se, chegou ao fim. Entendi por razões estritamente pessoais que era o tempo de encerrar.” Ele negou que tenha entrado em atrito com membros da comissão e do governo. “Quanto ao governo de maneira alguma. Quanto aquilo já foi noticiado (divergências com outros integrantes) não pesou, até porque foi sanado.”

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As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.