Apenas 41 dias depois de anunciar o nome do sociólogo Emir Sader para a presidência da Fundação Casa de Rui Barbosa, e antes mesmo de lhe dar a posse do cargo, a ministra da Cultura, Ana de Hollanda, decidiu trocá-lo.
A avaliação da ministra, segundo interlocutores, é de que Sader estava trabalhando para desestabilizá-la, o que ficou claro numa entrevista publicada na Folha de S. Paulo no último domingo. Nela, ele disse que Ana é “meio autista”, referindo-se a uma suposta falta de firmeza em sua tomada de decisões no MinC.
O comunicado da ministra, nesta quarta-feira, foi brevíssimo: diz apenas que Sader está fora e que o novo nome será divulgado em breve. O dele, postado em seu blog pouco depois, não fala diretamente da decisão da ministra, mas diz que o MinC “tem assumido posições” das quais ele discorda “frontalmente”, o que tornou “impossível” seu trabalho. Pelo telefone, ele preferiu não fazer declarações
No comunicado, Sader acusa a “direita”, com sua “brutalidade típica”, de derrubá-lo, para evitar que ele continue lutando pelo “fortalecimento do pensamento crítico” contra “o pensamento único” no País. Nesta quarta-feira, a notícia chegou por um auxiliar da ministra, e não pela voz da própria.
A controvérsia não vem de agora. Sader, que havia se engajado na campanha de Dilma Rousseff à Presidência, acreditava ter chances de ser escolhido ministro da Cultura. Acabou preterido, e seu nome foi imposto a Ana pelo PT, o que teria sido motivo de sua insatisfação, já que a fundação – uma casa-museu voltada à pesquisa da produção literária brasileira e também à promoção de debates na área da cultura – tem pouca visibilidade.
Depois do anúncio da ministra, aos 21 dias de governo, Sader logo falou de sua intenção de promover debates na entidade, trazendo “pessoas que fazem as reflexões mais férteis sobre o Brasil de hoje”, notadamente de esquerda, e tornando-a “um grande centro de discussão do Brasil atual”.
“A Casa faz a atualização do pensamento de Rui Barbosa, não está parada no tempo. O que causou espanto foi ele fazer dos ciclos de debates o carro-chefe, sem falar nada do acervo nem das questões funcionais da casa”, comentou hoje uma funcionária antiga.
O atual presidente, José Almino de Alencar, continua trabalhando normalmente, já que a nomeação de Sader não chegou a sair no Diário Oficial. Procurado nesta quarta-feira, Almino não deu entrevista.
Ana de Hollanda enfrenta problemas desde que assumiu. Além do imbróglio não-esperado na Casa de Rui, ela vem sendo instada a se posicionar pública e claramente acerca da questão dos direitos autorais, tema muito discutido na gestão anterior, quer era pró-mudanças. Até agora, a ministra deu sinais de que vai na direção contrária. Mas nada de anunciar uma posição fechada.
Na noite de terça-feira, o secretário-executivo de Ana, Vitor Ortiz, disse que o MinC não havia recebido pedidos de demissão de funcionários indignados com o desligamento de Marcos Alves de Souza, substituído por Marcia Regina Vicente Barbosa, como fora divulgado.
Segundo Ortiz, a advogada foi escolhida pela ministra justamente para “retomar o diálogo sobre direitos autorais, que, nesse momento, está ríspido”, e “para colocar a questão acima da dicotomia bem e mal”. Souza é pelas mudanças; já Marcia tente à não-flexibilização da legislação atual.